domingo, 14 de agosto de 2016

Wanessa Camargo: uma estrada de 15 anos recomeçada do zero

Não é novidade para quem me conhece que eu acompanho o trabalho da Wanessa Camargo desde o início da carreira. Chorei ouvindo o CD, tentei “converter” o máximo de pessoas a gostarem, defendi os álbuns até mesmo em trabalhos na faculdade. Tudo isso desde o início da carreira, quando ouvi pela primeira vez O Amor Não Deixa. Aqui no blog, fiz até uma tag “Série Wanessa” pra divulgar e falar do trabalho dela.

Receio que este seja um dos últimos posts da Série Wanessa.

Para quem não a acompanha, explico o porquê desse post e o motivo da minha insatisfação. Recentemente a cantora começou a divulgar músicas do seu novo álbum de estúdio, o oitavo (sem contar os que são ao vivo). E eis que a sonoridade apresentada é completamente diferente de qualquer coisa que ela já fez até aqui. As duas primeiras músicas, Vai Que Vira Amor e Coração Embriagado, são o que existe de mais sem criatividade no sertanejo atual. É o tipo de música que só muda a letra, porque qualquer canção, de qualquer artista ou dupla que faça esse estilo, tem exatamente a mesma levada, o mesmo ritmo. Cansativo, para dizer o mínimo.

Mas por que isso é ruim? Ela não pode mudar o estilo?

Olha, poder, pode. Ela faz o que quer com a carreira dela e eu não sou ninguém para impedir ou chamar a atenção. Se nem a gravadora conseguiu pará-la com essa ideia maluca (o que resultou na rescisão do contrato), o que eu poderia fazer? No entanto, a questão principal é: o que ela ganha com isso? Qual a estratégia por trás dessa reviravolta? Quem é Wanessa Camargo na música brasileira? É o que vamos discutir juntos. Siga comigo!

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Trabalhar com sonoridades diferentes não é algo incomum no mundo da música


Seria desonesto dizer que artistas não podem trabalhar com sonoridades diferentes daquelas que normalmente atuam. Os exemplos estão aos montes por aí. Lá fora, Lady Gaga abandonou por uns momentos o pop para fazer um trabalho no jazz ao lado do renomado Tony Bennett. E ela não foi a primeira a fazer parceria com o cantor. Christina Aguilera e Amy Winehouse também já fizeram projetos similares. Mas perceba que nem Bennett, nem qualquer uma das três cantoras abandonaram a originalidade da sua arte para encabeçar um projeto alheio ao que se propõem. Em todos os casos, foi uma iniciativa paralela, complementar, que só acrescentou à carreira de todos eles.

E mesmo quem mudou de estilo conseguiu fazer essa transição de uma maneira muito estratégica, respeitosa com seu público e natural. É o caso de Taylor Swift. A antes princesa do country, hoje trabalha com uma sonoridade focada no pop. Contudo, isso não aconteceu de uma hora para outra. Primeiramente que o trabalho dela já atingia muito do público que consumia música pop. Aproveitando esse nicho, as composições da cantora começaram a misturar sonoridades (o que pode ser percebido mais nitidamente no álbum Red), até migrar completamente com o mais recente 1989.

Arquirrival de Swift, Katy Perry também mudou a sonoridade. Mas aqui por conta de uma realidade bem diferente. Perry fazia música gospel e não se sentia realizada neste tipo de música. A falência da gravadora com quem ela havia lançado um álbum só aumentou a insatisfação com o seu trabalho, e ela resolveu rumar para o pop. Essa mudança, no entanto, era consciente e planejada. Katy queria outro público, outra música, outro alcance.

Trazendo para a realidade brasileira, foi algo parecido com o que aconteceu com Sandy. A filha de Xororó encerrou a dupla com o irmão e, por consequência, desligou-se do pop romântico, investindo em algo que já fazia parte dos seus gostos pessoais há muito tempo: a MPB, ou pop alternativo. O público da cantora, conhecendo ela e a verdade nessa nova proposta, a seguiu e, desde então, ela permanece com uma carreira de sucesso e uma consistência exemplar.

Também no Brasil, Ivete Sangalo, nascida do axé, já realizou trabalhos em MPB, fez parcerias com cantores sertanejos e até lançou um álbum infantil. Mas da mesma maneira que as parceiras de Tony Bennett, foi uma iniciativa à parte, paralela ao seu trabalho original. O axé sempre se manteve.

Portanto, essa experimentação é positiva e rica para qualquer artista. Faz com que ele cresça e experimente sons e realidades que ampliam suas próprias perspectivas dentro do seu trabalho. A mistura de sonoridades é algo extremamente bem-vindo na música e só é alcançada quando acontecem essas misturas. Mas esse, infelizmente, não é o caso da Wanessa. E eu vou explicar por quê.

Com aposta no sertanejo, Wanessa Camargo mostra sua falta de identidade


Wanessa Camargo começou fazendo o que a indústria fonográfica chama de teen pop. Era um pop romântico voltado majoritariamente ao público adolescente, similar ao que faziam na época Sandy & Junior, KLB, SNZ e Felipe Dilon, só para citar alguns exemplos. Por isso, é mentira dizer que ela está “voltando às raízes”. Ela nunca cantou sertanejo nos seus álbuns. Existem apenas duas composições e uma música vertida para o português assinada pelo pai da cantora, Zezé di Camargo. Questionado sobre a razão de não escrever mais músicas para a própria filha, Zezé disse, à época, que era porque ela fazia uma música muito diferente da que ele faz.

No segundo álbum, e eu já relatei isso aqui, Wanessa dizia que estava buscando uma sonoridade “muito mais pop”. Sempre disse que se espelhava em Madonna e, enquanto seu pai escutava as músicas do gosto dele, ela sempre procurava por Michael Jackson e Abba.

A neta de Francisco saiu do teen pop com o maduro W: um álbum com uma pegada bem mais consistente e letras mais densas, compostas por batidas underground e guitarras bem marcadas que davam uma encorpada nas canções de uma maneira espetacular, mesmo nas faixas mais românticas, como Não Resisto a Nós Dois. Decididamente, isso não tem nada de sertanejo.

Se há algo de “sertanejo” na carreira de Wanessa é o Total, inclusive um dos álbuns que mais gosto dela. Não por ser o melhor, mas por fazer mais o meu estilo pessoal. Aqui, a cantora veio com uma proposta muito parecida com Shania Twain, em um country pop muito similar ao que Taylor Swift fazia. Ainda assim, não era sertanejo, no sentido mais bruto da palavra. Tem até um forró no meio — duramente criticado pelos fãs, inclusive —, mas era apenas uma faixa em um álbum que, apesar de menos pop (não ausente de pop), retratava o momento pessoal dela: apaixonada e recém-casada, as músicas vieram mais doces, leves e românticas.

Ao migrar, de fato, para o pop, Wanessa contemplou um público que já a acompanhava e que gostava desse estilo. Quem ouvia a garota Camargo também ouvia Britney Spears (não à toa ela foi capa da revista Vip com a chamada “A nossa Britney), Beyoncé (inclusive ela fez o show de abertura da apresentação da musa norte-americana) e Madonna (de quem Wanessa fazia covers constantes em seus shows). Talvez tenha causado algum estranhamento em alguns fãs mais acostumados com uma levada mais romântica, mas não foi uma troca de público. Apenas uma decisão mais firme baseada nas preferências pessoais e na naturalidade que seus seguidores teriam em migrar para este novo momento.

Apesar do álbum Meu Momento, o primeiro dessa época, ser um desastre, e ter músicas dignas de vergonha alheia (como a dispensável Máquina Digital), Fly foi extremamente bem elogiada. Quem a acompanhava sabia que era um projeto quase que experimental. Ou seja, Wanessa estava tentando encontrar a melhor música para essa sua nova fase e sua plateia sabia disso.

No entanto, depois de se firmar neste estilo, conquistar um público bem específico (com muita dificuldade, diga-se de passagem), Wanessa sai das pistas para gravar um arrocha muito tosco. Ignora o já conquistado, choca os fãs, muda a sonoridade e abandona toda a trajetória trilhada até então.

A justificativa, martelada por muitos veículos de imprensa e sustentada pela própria cantora e sua equipe, é de que Wanessa estaria “voltando às origens”. Mentira! Pode ser um retorno às origens da família. Mas da carreira, não. Ela nunca cantou o que está cantando agora. E mesmo se considerarmos que ela está retornando às origens familiares, nem isso é verdade. As músicas apresentadas até agora em nada se parecem com o que seu pai faz, nem com que Chitãozinho e Xororó e Leandro e Leonardo — citados como referência — faziam. Wanessa apresenta um sertanejo universitário, preguiçoso e sem identidade.

As possíveis razões para essa mudança


Wanessa não é burra. Na “era DNA”, ela chamou Naldo para compor uma música para ela. O cantor, febre nacional depois da horrorosa Amor de Chocolate, fez a igualmente medonha Deixa Rolar. Infelizmente, Naldo já tinha caído no esquecimento e a cantora não conseguiu aproveitar o sucesso do colega para ganhar pontinhos nos charts também.

Aí está só um exemplo de como ela sempre esteve bem atenta ao momento da música. Investir no sertanejo é um movimento natural de quem quem aproveitar a demanda que existe por esse estilo musical. Desespero por dinheiro? Não, eu não diria isso. Inclusive porque Wanessa não precisa e porque isso é desmerecê-la. É apenas uma necessidade pessoal, vejam:

Wanessa vinha se apresentando em boates. A DNA Tour não conseguiu levar aquela estrutura do DVD Brasil afora. Com aquele formato, o show passou apenas por três capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e acumulou fracasso de público fora da capital paulista. Algo que Wanessa sempre deixou nítido foi seu desejo de estar no palco, de fazer um show bonito, com uma estrutura bacana, para um público grande. E imagino ser frustrante para ela se apresentar em lugares que, depois dela, semanas depois recebiam pessoas do calibre de Inês Brasil. Nada contra Inês, mas é que o tipo de trabalho que ela faz é um abismo de diferença do que o apresentado por Wanessa, não é verdade?

Portanto, olhar fenômenos do sertanejo como Marcos & Belutti, Henrique & Juliano, Luan Santana, Gustavo Lima, Maiara & Maraisa lotarem estádios e casas de shows, além da experiência do próprio pai e tio, certamente causou um desejo de mudança, uma necessidade de conquistar aquilo ali. No lugar de batalhar na música que vinha fazendo para garantir seu espaço (o que se conquista com o tempo, não de um trabalho para outro), ela foi pelo mais fácil: trocou o estilo, gravadora, empresário e começou a fazer música “linha de produção” para abocanhar um público que naturalmente já acompanha artistas desse estilo.

O triste é que Wanessa Camargo chegou aqui, depois de mais de 15 anos de carreira, sem nada. Ela não tem um estilo, não tem um público crítico e fiel que a acompanha (com raras exceções, os fãs que permanecem com ela o fazem pela pessoa incrível que ela é, além de se importarem menos com a música), além de ter jogado fora uma legião de pessoas que haviam acreditado nela depois dos trabalhos mais recentemente lançados.

Ou seja, com sorte, pode ser que este seja um bom momento para a carreira dela. Por quanto tempo isso vai durar e se vai ser algo memorável, digno de ser lembrado daqui alguns anos, só poderemos ver mais adiante (eu acredito que não). Espero, sinceramente, que um dia ela encontre sua verdadeira identidade e siga um caminho bem definido. Não adianta dar a desculpa de que pessoas mudam e que isso é natural. Os fãs atuais do ACDC não os acompanhariam se eles decidissem fazer country music. Os fãs do Wesley Safadão não o acompanhariam se ele decidisse gravar música erudita. Essas mudanças bruscas na carreira de qualquer artista, quando não calculadas e com um objetivo bem definido, são irresponsáveis e injustificáveis.

Só espero que Wanessa um dia entenda isso para observar que o que ela está fazendo não é sinônimo de maturidade. É uma prova de desrespeito e indecisão.

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domingo, 14 de fevereiro de 2016

Alerta: em hipótese nenhuma compre um Windows Phone



Windows Phone é bom?, você poderia em algum momento perguntar-se. Talvez até tenha chegado a esse texto digitando algo assim no Google. Então... sinto dizer, categoricamente, que não. Definitivamente, é uma porcaria. Uma vergonha. Se eu fosse um executivo da Microsoft jamais queimaria meu filme, prejudicaria a imagem da empresa, autorizando que fosse comercializado algo tão ruim quanto um Windows Phone. Portanto, reforço o alerta: em hipótese nenhuma compre um Windows Phone.

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Você poderia me perguntar: “mas você tem um Windows Phone pra poder falar tão mal dele?”. Sim, tenho — respondo. Um Lumia520. Daí você pergunta de novo: “Mas se é tão ruim, por que você tem um?”. Essa é uma pergunta pertinente, então vamos contextualizar — e creio que essa contextualização é bem importante para vocês verificarem como o que eu estou dizendo aqui não é nenhuma cisma com o Windows Phone.

Cheguei a ele primeiramente por causa do design. De fato, os aparelhos da Microsoft têm um desenho clean e atrativo. Não são aquelas coisas horrorosas da Samsung — parece mais um tablet do que um celular e nem cabe no bolso — nem aqueles modelos pesados da LG, Motorola ou Sony, tampouco caros como um iPhone. Então do ponto de vista estético, ele é bem bacana. Bonito.

E aqui vocês podem reparar em uma coisa sobre mim: eu não sou nem um pouco chato para as características técnicas dos smartphones. Muita gente faz a peneira pela qualidade da câmera, o espaço de armazenamento, a velocidade do processador, enfim. Mas para mim essas coisas nem são lá tão importantes. Meu nível de exigência para atributos técnicos é bem baixo, até porque não sou alguém que vive grudado no celular. Não sou maníaco por gadgets, não fico o dia inteiro na internet, não gosto dessa coisa de a toda hora estar conectado, mal uso o WhatsApp (sou daqueles que continuam no SMS), não faço questão de ficar compartilhando tudo o que estou fazendo a todo momento.

Sendo assim, por mais que tivessem me alertado pelo tamanho da ruindade que é um Windows Phone, ignorei: achei que fosse implicância de programador, de gente da TI. Pensei que fosse aversão típica dos fãs da Apple. Engano meu.

Mas teve outra coisa que me levou ao Windows Phone: a confiança na marca Nokia. Quando ganhei o meu (sim, foi presente. Mas a pessoa me deu porque eu havia manifestado interesse no aparelho), a Microsoft ainda usava o nome da empresa finlandesa. E eu sempre tive ótimas experiências com a Nokia, porque quase todos os meus celulares na era pré-smartphone eram dessa marca, e eu nunca havia me decepcionado: a bateria era boa, a vida útil do aparelho excelente, a navegação simples, a resistência lendária.

Então aceitei o presente com o sorriso no rosto e sem medo de ser feliz. E inicialmente eu até defendia o produto daqueles que diziam que ele era ruim. De fato, nos primeiros meses, eu não tinha do que reclamar. Como usava pouco a internet pelo smartphone, não tinha uma avaliação muito precisa da experiência. Os aplicativos mais necessários — como calculadora, cronômetro, gravador de voz, previsão do tempo, WhatsApp — estavam todos ali. Facebook e Twitter, as duas redes sociais que eu mais usava até então, também. Estava feliz. Mas foi por pouco tempo.

Bugs no Windows Phone


Meu primeiro estresse foi um bug que impedia o aparelho de ligar. Isso poucos meses depois de começar a usá-lo. Fiquei uns dois dias tentando e pesquisando como solucionar. Até que não era algo difícil de se resolver, consegui arrumar por mim mesmo, mas na própria página de ajuda da Microsoft, onde havia o auxílio para corrigir o problema, o aviso: aquele era um problema comum nos aparelhos Windows Phone e poderia voltar a acontecer. Comigo não ocorreu outras vezes, mas em alguns sites e fóruns que pesquisei via muita gente reclamando que esse incômodo era frequente.

Windows Phone e sua carência de aplicativos


Depois disso constatei que a maioria dos aplicativos que normalmente existem para Android e iOS simplesmente não são desenvolvidos para Windows Phone. O que eu mais sentia falta, naquele momento, era um com os horários de ônibus. Para algumas capitais (poucas) até tinha, mas não haviam muitas opções. O aplicativo para as linhas de Joinville, onde moro, só saiu ano passado. Até encontrá-lo, eu tinha que fazer a consulta diretamente no site das empresas de transporte coletivo.

Daí outro problema: usar a internet num Windows Phone. Não importa o navegador: a página não abre, a visualização é péssima, trava, e depois de muito sacrifício, a página fecha sem que você tenha conseguido ver o que queria. Daí é preciso repetir a operação, com o dobro de paciência.

O aplicativo do YouTube, por exemplo, é apenas um link para visualizar o site no Internet Explorer. Além de lento, muitos vídeos ficam cortados.

O Instagram eternamente beta do Windows Phone


O tempo passou e me rendi ao Instagram. Embora ache a rede social incrível, a experiência proporcionada pelo Windows Phone é horrorosa. Como ele ainda está na versão beta, não é possível gravar vídeos, enviar e receber mensagens privadas e, ao postar as fotos, elas são cortadas. O pior não é nem postar, porque sabendo que o aplicativo vai cortar a sua imagem você já produz ela de uma forma que não se perca nenhuma informação importante. O problema é que muitas fotos das pessoas que você segue aparecem cortadas. Daí a coisa complica.

Pior: a quantidade de filtros é bem menor que o aplicativo original, a qualidade da foto é comprometida quando você posta na rede social e como as atualizações não são implementadas para o Windows Phone, vez ou outra o app dá bugs, impedindo que você acompanhe a linha do tempo, dificultando o carregamento das fotos (isso quando consegue carregar), enfim... Passam-se dias até que a coisa volte ao normal. E você impossibilitado de postar ou ver as publicações dos seus amigos.

Facebook e Twitter: apenas o básico


O Facebook é uma coisa horrorosa. Não é possível visualizar os eventos, interagir neles, ou criar eventos pelo aplicativo do Facebook do Windows Phone. Não é possível responder os comentários (é necessário fazer um novo comentário, o que deixa a coisa toda desorganizada) e também não dá para criar álbuns de fotos. Por fim, as gifs não são reproduzidas na linha do tempo: é necessário abri-las em um navegador para visualizar.

O Twitter não tem várias das funcionalidades da versão web ou do aplicativo original. As fotos do avatar dos seguidores não aparece (às vezes elas surgem, do nada, mas no dia seguinte somem de novo), tornando muito complicado reconhecer com quem você fala, uma vez que no Twitter as pessoas trocam o username com bastante regularidade. Gifs também não são reproduzidas e qualquer arquivo multimídia precisa do navegador para ser visto. Sem contar que a linha do tempo não atualiza sozinha, nem mesmo tem sincronia com a web (se você vê as notificações no computador, no app elas continuam sinalizadas como não vistas).

Windows Phone não recebe aplicativos no mesmo instante que outros sistemas operacionais


Nem todos os bancos têm aplicativos para o Windows Phone. Se tem, são limitados. E não só bancos. Muita gente deixa de desenvolver para este sistema operacional e até mesmo a Microsoft tem versões melhores dos seus produtos para Android e iOS e disponibilizam uma opção inferior para quem usa seus aparelhos. Exemplo disso é o Skype. Dá pra entender isso?

Daí seus amigos estão brincando em um aplicativo-febre — daqueles sem importância, que ganham fama instantaneamente e logo em seguida já deixam de ser interessantes. Mas, poxa, você também quer brincar, experimentar, se divertir, curtir. E não consegue. No Windows Phone não dá. Afinal, ninguém faz uma versão para ele. E aqui estou falando, por exemplo, do Dubsmash, Kiwi, Snapchat.

Quem quiser usar um aplicativo para encontrar uma paixão, amizade colorida, ou um amor para toda vida também não pode ter Windows Phone. O Tinder, por exemplo, não existe. Há uma versão limitadíssima não oficial, mas que não permite a você interagir com quem tem o Tinder. Você visualiza as pessoas do app original, mas não pode falar com elas, só com quem tem o genérico do Windows Phone. E assim é com vários outros aplicativos. Tudo genérico. Tudo limitado. E, para piorar, com funcionalidades básicas pagas.

Até os jogos são ruins. Um que eu gosto muito e jogava quando tinha um Android, Zumbi Tsunami, é pago no Windows Phone. Pelo menos esse existe para quem quiser pagar. Mas tantos outros que nem são desenvolvidos para o sistema operacional da Microsoft.

Windows Phone: um telefone chique?


Enfim, é preciso dizer que o Windows Phone funciona muito bem como telefone. Sim, você pode fazer e receber chamadas, enviar e receber SMS sem nenhum problema. E pode escolher os sons que você quer para as notificações e deixar a tela com a organização e cor que você preferir. Terá que lidar com travamentos, com a demora de abrir determinadas coisas, com alguma funcionalidade fechando do nada, de repente, mas ainda poderá usá-lo. E não dá para negar que ele é bonito, e essa possibilidade de deixar personalizado também é bem bacana.

Mas como smartphone não dá. Não rola. Não funciona. É pura incomodação. É limitado. É pesado, demorado, não recebe atualizações, as versões são inferiores... enfim... é tudo de ruim. E aqui quem fala é alguém bem pouco exigente, como já disse, e totalmente desapegado a essas coisas. Eu gosto de ter aplicativos, gosto de participar das redes sociais. Mas não fico conectado o dia todo. E mesmo nesta situação, nesta realidade, o Windows Phone não me atende. É um horror.

A menos que você não tenha outra opção, ou que realmente não queira mais que um telefone para o seu dia a dia, eu deixo aqui a minha dica: não compre um Windows Phone. Até porque, não tem jeito, ele não vai melhorar. Ninguém vai começar, do nada, a produzir aplicativos para ele. Ele não vai se popularizar. E tudo isso vai continuar beta, não oficial, limitado e uma grande merda.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

"A 5ª Onda" no Set

A fórmula tá ficando batida, mas assim como a gente se surpreendeu positivamente com Jogos Vorazes, sempre há aquela possibilidade de achar algo bom em mais uma trama adolescente com um triângulo amoroso.

Não é o caso deste A 5ª Onda. Entenda por que lá no Set, que está de volta!

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

O meu sonho de publicar um livro

Queria dividir algo bem especial com vocês. Senti essa necessidade porque, nessa jornada, acho que precisarei de muita força, muito apoio, muito incentivo, especialmente dos amigos e pessoas mais próximas.

Há alguns dias assisti a um filme biográfico por nome "Magia Além das Palavras". Conta a história da criadora de Harry Potter, Joanne Rowling. Desempregada, recém-separada do marido que a abusava, órfã de mãe, com uma filha pequena para criar, ela precisou sobreviver com a ajuda de um programa assistencial do governo inglês, que a sustentava com um salário semanal e pensão para moradia.

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Contei isso pra ilustrar como ela era desconhecida e sem nenhum contato naquele ano em que resolveu levar adiante seus sonhos. Ela só tinha uma boa história na cabeça e decidiu investir nela para realizar o seu objetivo de ser uma escritora. No entanto, grande parte da relutância das editoras ao receber o material dela se devia ao fato de ela ser desconhecida. E mesmo aquela que a aceitou, pediu para que ela abreviasse o primeiro nome para que não parecesse uma autorA (por isso o J. K. e não Joanne Rowling). Puro machismo, mas, enfim, ela precisou se sujeitar para ter seu livro publicado.

E neste ponto chego a mim: óbvio que minha situação de vida não é nem um pouco parecida com a Rowling pré-Harry Potter. Tenho um ótimo trabalho, amigos que me apoiam, uma família que é meu porto seguro, não vivo de assistência do governo, MAS sou desconhecido. Fato. E é nesse ponto que me apeguei para conseguir ir adiante com meu sonho. Além disso, há uma diferença clara entre os hábitos de leitura na Europa e Estados Unidos e aqui no Brasil, né? Enfim...

Poderia tentar o Simdec? Sim, poderia. Mas confesso a vocês que estou um pouquinho mais ambicioso. Será uma alternativa caso nada dê certo, claro, mas antes quero procurar as editoras. Isso porque tenho o firme propósito de conseguir pelo menos algumas centenas de leitores pelo Brasil. Sim, tô ousado, mas até aqui ninguém me cobrou por sonhar alto rs.

Ontem passei o dia pesquisando o processo de envio de originais às editoras e o cadastramento na Biblioteca Nacional. Agora estou me organizando pra conseguir fazer isso ainda neste ano.
Quem é mais próximo a mim sabe que eu tenho vários livros escritos. Nenhum desses que estão prontos eu publicaria, por uma série de motivos, mas este no qual estou trabalhando desde 2007, ainda ganhando forma, de fantasia, este sim, é meu xodó, meu orgulho, minha cria. E é neste que vou investir.

Compartilho esse desejo, esse objetivo que tracei para minha vida neste ano para que vocês estejam a par dessa minha caminhada e, sabe-se lá como, de repente possam me ajudar e/ou incentivar de alguma maneira. Tenho vários amigos com livros já publicados e isso dá alguma experiência, que seria muito útil para mim neste momento. Ideias, afinal, também são sempre bem-vindas.

Prometo que qualquer avanço nesse sonho eu compartilho por aqui. Até lá vou lutando, sonhando, pesquisando, buscando meu espaço e fantasiando.

Espero que tudo dê certo!

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domingo, 10 de janeiro de 2016

Os Dez Mandamentos e o papelão na dramaturgia da Record e da Globo em 2015

O ano de 2015 marcou algumas das situações mais bizarras da televisão brasileira. O conservadorismo cada vez mais doentio da sociedade, que torna incapaz de aceitar o diferente, o novo, associado a um clima de hostilidade entre as pessoas, acabou atingindo o comportamento do brasileiro diante da telinha.

É que no dia 16 de março a Rede Globo estreou sua nova novela das nove: Babilônia. Escrito a seis mãos, entre elas o experiente Gilberto Braga (de Escrava Isaura, Vale Tudo, Celebridade), junto com João Ximenes Braga e Ricardo Linhares, apoiados por um elenco estelar, com grifes como Fernanda Montenegro, Glória Pires, Adriana Esteves, o folhetim causou espanto do público já no primeiro episódio, ao exibir a cena de um beijo lésbico entre as personagens de Montenegro e Nathalia Timberg.

No dia seguinte, campanhas de boicote, inclusive vindas do Congresso Nacional, e mensagens raivosas à Natura, patrocinadora do programa, pedindo para que fosse retirada a publicidade na novela, se espalharam pelas redes sociais e, principalmente entre as igrejas.

É gente, as igrejas estão cada vez mais querendo dizer até mesmo o que deve e o que não deve passar na televisão.

Não à toa que, na semana seguinte, no dia 23 de março, a Rede Record levou ao ar aquilo que ela chamou como “a primeira novela bíblica da história da televisão”, Os Dez Mandamentos: um prato cheio para todos aqueles que estavam fazendo campanha contra a Rede Globo. E prato cheio para as igrejas também, claro. Não que a história de Vivian de Oliveira tivesse sido fiel e correta em relação aos escritos bíblicos, mas isso é detalhe diante de tudo o que a novela mostrou.

Um pouco mais adiante, caros leitores, eu devo mencionar o papelão da Record em relação à sua falta de planejamento no tocante a este projeto. Mas antes de chegar lá, quero registrar que até mesmo a gigante Globo se comportou de maneira vergonhosa diante do fracasso da sua novela e do avanço da concorrência no horário.

É que, para agradar aqueles que estavam apedrejando Babilônia, a Globo recomendou que a novela fosse totalmente alterada. Com isso, personagens ficaram descaracterizados, outros desapareceram, alguns núcleos tornaram-se inúteis, tramas que prometiam um desenrolar interessante foram descontinuadas e, aqueles que ainda se interessaram minimamente por todas aquelas coisas novas que haviam sido propostas, foram desanimando ao ver o que a narrativa estava se tornando: aos poucos, uma colcha de retalhos sem sentido.

Como as alterações não causaram nenhum efeito positivo, a Globo começou a promover um tal de estica-e-puxa na grade que ficou feio de se ver. Jornal Nacional ficava mais longo, novela mais curta, outros dias um atrasava, ou adiantava, enfim... Uma bagunça que só.

Com tudo isso, a Record se beneficiou. Em primeiro lugar, como eu disse, a onda conservadora que está inundando o país se sentiu prestigiada ao ver a adaptação de uma conhecidíssima e milenar história religiosa. Depois, com o comportamento primário da Globo, mais pessoas resolveram conferir o que havia no canal ao lado, ao perceber que a gigante da teledramaturgia estava perdida na condução do seu principal produto. E, por último, e — na minha visão — menos importante, a necessidade das pessoas de buscarem uma trama escapista, diante de tantas notícias ruins e indignantes que reinaram na imprensa nacional em 2015. Neste sentido, Os Dez Mandamentos era como uma massagem para o anseio de entretenimento longe da realidade, algo que Babilônia não estava propondo.

Mas muito do que eu disse aqui já é bem conhecido de quem acompanha notícias sobre os bastidores da TV. O ponto que eu queria chegar era especificamente sobre a trama de Os Dez Mandamentos. A novela fez história ao bater, em audiência, o principal produto da televisão brasileira (a novela das nove da Rede Globo) e ao dar índices de duas casas decimais à Record, nada acostumada a essa realidade.

O burburinho que a novela causou nas redes sociais também foi uma coisa digna de registro. Foi uma trama comentada, que incomodou a Globo, mexeu também com as outras concorrentes, alterou o comportamento do brasileiro diante da TV e pegou até mesmo a própria Record desprevenida.

Mas tudo isso, devo dizer, não tem nada a ver com a qualidade da novela. Muito pelo contrário. Como também já ressaltei, a Record foi feliz por colocar na sua grade um produto certo na hora certa. Nem mesmo os efeitos digitais importados da mesma empresa responsável pelo seriado The Walking Dead são dignos de elogio, ao se considerar as questões técnicas e artísticas.

A novela parecia mais um teatro de igreja: os figurinos extremamente coloridos, a direção de arte e os cenários completamente artificiais, as atuações exageradas (quando não mecânicas), as falas impostadas demais (isso quando não se tentava fugir da formalidade e acabava caindo no extremo oposto: a coloquialidade exagerada), sem contar com o tom de pregação que a novela cultivou ao longo dos seus mais de 170 capítulos. Um martírio. Teve até extintor de incêndio que apareceu em um dos capítulos (em pleno Egito Antigo), revelando a falta de precisão da equipe técnica a certa altura, já que o ritmo de gravações estava extenuante.

A cena da travessia do Mar Vermelho, ponto alto da trama, conseguiu ser mais chata do que piada de tio velho na ceia de Natal. Blocos inteiros com closes sem diálogos, cheios de caras e bocas, com efeitos digitais vergonhosos (ok que é extremamente caro executar coisas desse tipo. Mas se viram que a coisa ia ficar tão artificial, poderiam diminuir um pouco a escala). Mas não. Na visão do elenco e da produção, a Record estava colocando no ar a sétima maravilha do mundo. Não havia nenhuma autocrítica. Iludidos pelos números, tomaram para si a crença de que o produto era inquestionável, primoroso, de fazer inveja de Hollywood. Quanto engano!

Não deu outra: após este ápice da história, a audiência caiu, segundo o Ibope. Curiosamente, essa é uma característica totalmente contrária a qualquer telenovela. Normalmente os últimos capítulos é que batem recordes, que chamam um público que não costumava acompanhar a trama, e o desfecho de qualquer novela acaba trazendo números superiores ao dia a dia de qualquer folhetim.

Em Os Dez Mandamentos, no entanto, houve uma situação brochante. Um anticlímax horroroso, imperdoável para qualquer pessoa que entenda minimamente de um roteiro. O clímax da novela era justamente a travessia do Mar Vermelho, a fuga do Egito. Ainda assim, a novela se estendeu por mais algumas semanas e, no fim das contas, não terminou. Acabou com um “continua”.

O momento-título da novela nem chegou a acontecer, porque o protagonista, Moisés, sequer chegou a entregar as tábuas da Lei para o povo hebreu. Flagrando a traição de seu povo a Deus, o profeta quebrou as pedras e, em mais uma cena cheia de closes, caras e bocas, trilha exagerada e embarrigada (que é como se diz nas situações em que uma novela se enrola demais, quando não acontece nada relevante à trama), o folhetim acabou.

Isso é consequência do papelão — dessa vez — da Record. Impressionada com os números que nem mesmo ela esperava, perdida diante da falta de domínio sobre o que fazer com a trama de sucesso que tinham em mãos, tomaram decisões diferentes em dias seguidos a respeito do que viria depois de Os Dez Mandamentos. Com uma novela inteiramente gravada (Escrava Mãe) e temendo perder aquilo que havia conquistado, a emissora da Igreja Universal primeiro disse que levaria adiante seus planos de substituir a trama bíblica pela história de escravos (chegou até a exibir chamadas da nova novela). Em seguida, afirmou que colocaria no ar A Terra Prometida, sequência direta da saga de Moisés, mas ao ver que não conseguiria produzir a tempo o novo folhetim, cortou a trajetória do povo hebreu pela metade, anunciou uma segunda temporada, terminou a novela sem terminar, colocou no ar, pela terceira vez, a reprise de séries bíblicas, e está prometendo a sequência de Os Dez Mandamentos para o primeiro semestre deste ano, em, no mínimo, 60 capítulos. Depois deve estrear a história de Josué, sucessor de Moisés, na tomada da terra prometida, que dará título à novela.

Fato é que, com tudo isso, muito embora conquiste audiência e, de alguma maneira, um espaço de mais prestígio na produção de telenovelas, a Record demonstra amadorismo e falta de confiança em sua própria capacidade de fazer dar certo uma história anteriormente planejada (A Escrava Mãe) e revela estar perdida na administração da sua programação.

Embora a Rede Globo tenha perdido, em audiência, algumas batalhas, ela segue como vencedora da guerra. Ainda que a qualidade das histórias apresentadas tenha decaído muito nos últimos anos, os aspectos técnicos da emissora carioca são imbatíveis. E é sintomático perceber que, mesmo com resultados aquém dos habituais e perdendo público para a internet, para a TV sob demanda e os canais fechados, a Globo mantém-se como líder absoluta na teledramaturgia nacional. Tanto em qualidade técnica quanto em alcance.

Enquanto a Record não acreditar na própria capacidade e tratar a sua programação como uma brincadeira de criança, que desiste, retoma e volta atrás quando quer, ela nunca será uma Rede Globo. Esteja o Mar Vermelho aberto ou completamente fechado.

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domingo, 3 de janeiro de 2016

O meu preconceito que me envergonha e o processo de desconstrução

Quando resolvi assumir o compromisso pessoal de manter este espaço atualizado, meio que fiz uma revisita às publicações antigas. O objetivo era verificar a periodicidade dos posts, em quais momentos eu havia sido mais dedicado ao blog e como eu me organizava para garantir que ele sempre tivesse conteúdo novo. Mas este exercício acabou resultando em uma outra reflexão, que quero compartilhar com vocês.

A primeira constatação: como o meu texto evoluiu! Não só em questão de estilo, mas na precisão da escrita mesmo. É até vergonhoso verificar como as coisas eram, a maneira como eu organizava as ideias, a forma de colocar os argumentos, enfim... E isso que eu achava que escrevia razoavelmente bem.

Mas o desconforto em ver a minha escrita anos atrás não é nada se comparado à minha evolução como pessoa. Neste item, sim, eu me senti profundamente enojado com certas coisas que eu mesmo colocava.

Machismo disfarçado de  "sou romântico"

 

A primeira coisa que notei foi como eu era machista! Num post vergonhoso intitulado “A mulher perfeita”, por exemplo, ao “analisar” o comportamento feminino em uma sexta à noite, eu escrevo: “Chuva e frio e cambada [olha que construção horrível] de mulher de top e minissaia. Quando não,
um vestidinho fino e curto. É bom ver, não nego [o grifo não é original], mas muito mais bonito seria algo menos ridículo”.

A maior escrotice, além de querer ditar com qual vestimenta as meninas podem ou não se sentir à vontade para se divertir é dizer “é bom ver, não nego”. Gente! Como eu podia pensar assim? Que ridículo! Que vergonhoso! Como se as mulheres fossem alguma mercadoria exposta para que eu diga “estão ridículas, mas é bom ver”. Como se elas estivessem se vestindo para me agradar. Como se devessem obedecer às vontades e desvontades dos machos de plantão. É bom mesmo que eu tenha evoluído nesse aspecto.

Em outro post, “Marcando posições”, destilo meu preconceito ao afirmar, taxativamente, que funk não é música. E no mesmo post, em certo “argumento”, faço mais uma colocação nojenta e machista, que não vem ao caso (tem algo a ver com “pegar” mulher).

Enfim, os exemplos são inúmeros. E a partir daí comecei a notar o quanto eu precisei exercitar a desconstrução para ser uma pessoa mais crítica e com um pouco mais de senso de justiça. Não vou dizer que hoje sou um ser perfeito, que alcancei o nirvana e sou dotado de todo o conhecimento do mundo. Não! Até porque, daqui a alguns anos, vou reler outros posts do blog e ver o quanto eu fui ridículo em novas situações.

Mas o fato é que percebi o quanto eu era preconceituoso, machista e homofóbico. Talvez ainda o seja, mas em outra medida. A diferença é que hoje me policio e sei, na maior parte das vezes, quando estou falando uma bobagem. E ainda que não tenha expressado claramente nenhuma posição homofóbica em algum texto do blog, lembro como eu me comportava na escola, como eu ria e fazia os outros rirem com “piadas” sobre alguns colegas de turma, professores e professoras que, na visão da maioria, tinham algum trejeito homossexual (como se isso significasse alguma coisa ou como se isso fosse motivo de riso).

Uma forma de agir na rede e outra na vida


E aqui vale um adendo bem importante: eu nunca fui popular. Eu nunca fui o fodão da escola. Eu nunca me considerei uma pessoa de direita, mas aqui me comportava como tal. E o mais importante: este ser que escrevia essas coisas não era eu. Não tinha nada a ver com a forma como eu vivia, falava, me comportava. Eu não era pegador, eu não era dado a cantadas, eu não era o padrão de homem macho-alfa. Ao contrário: tive ótimos professores, colegas sensacionais que foram muito importantes para que eu construísse minha visão de mundo. Ainda assim, aqui nos textos, e em alguns pensamentos e atitudes não expressas, eu exercitava todas essas coisas ruins, características tão divergentes daquelas pelas quais eu era conhecido: o garoto estudioso, tímido, artista e religioso da escola e do bairro.

Isso me fez ver o quanto a minha trajetória explica esse momento de tanto ódio e falta de reflexão que vivemos na sociedade. Percebam: eu não me considerava alguém intolerante. No dia a dia não era alguém raivoso ou violento, não tinha nenhuma característica de alguém desrespeitoso ou preconceituoso, mas no meu íntimo e, especialmente, na rede (aqui no blog), externava toda essa prodridão que existia dentro de mim. E isso que sempre fui um rapaz da igreja, católico praticante e fervoroso (outra característica que pode ser notada na história do blog).

Como a igreja e a TV podem influenciar para o mal


Mas, afinal, o que me influenciava a ser desse jeito? Primeiramente, e inegavelmente, a igreja. Não é um achismo! É uma constatação ao observar a minha vida, a minha experiência. Justamente por eu estar tão imerso nessa realidade, tão envolvido no discurso religioso fundamentalista, que eu condenava taxativamente, sem poréns ou cuidados com as palavras, o comportamento feminino.

Lembro que em grupos de jovens e, de forma mais marcante, em um fim de semana na TV Canção Nova, onde participei de um retiro que eles denominam PHN (Por Hoje Não), o cantor Dunga comparava mulheres que se vestem mais à vontade a pedaços de carne velha expostos em um açougue. Eu cultivei comigo esse pensamento por anos. Num DVD da banda Anjos de Resgate, eles
comparavam homossexuais a bandidos e traficantes. “Se você não cuidar do seu filho, um bandido vai enganar ele, um traficante vai levá-lo para ele, um homossexual vai enganar ele”, diziam (ou algo parecido, não são as palavras exatas, mas era esse o sentido).

Lamentavelmente, vejo muitas pessoas agirem como eu agia, pensarem como eu pensava, motivados por esse tipo de influência.

E quem colocava mais lenha na fogueira era a TV. O Luiz Carlos Prates, aquele mesmo que defende administração militar nas escolas públicas, os presidentes da época da ditadura, e que disse que pobres não podem ter carros porque não sabem ler, era meu ídolo. O personagem que ele vivia no Jornal do Almoço, da RBS TV (afiliada da Rede Globo em SC), era uma inspiração para aquele garoto que sonhava em ser jornalista. Para mim, ele falava as mais profundas verdades, era sincero, não tinha meias palavras, enfim, era um exemplo. Por outro lado, pelo fato de a igreja criticar muito a “libertinagem” da TV, eu, no mesmo momento que a tinha como escola, também me considerava o supercrítico, e assim pensava que estava causando ao pensar e expressar certas coisas.

Eu não vou linkar aqui os textos que mencionei porque eles não representam o que eu penso hoje em dia e também não acho que valha a pena perder tempo com eles. São medíocres. Por outro lado, não vou excluí-los do blog, porque eles demonstram a minha evolução enquanto pessoa e cidadão, e pelo menos serviram para eu ser mais crítico comigo mesmo antes de criticar o mundo.

A raiz do ódio nosso de cada dia 

Diante disso tudo, percebo no Brasil atual um comportamento muito parecido com aquele que sempre tive: pessoas que se consideram críticas, mas que os pensamentos são resultado de uma combinação perigosa: o pior das religiões, misturado com a artificialidade do fazer pensar da TV, mais um sentimento de pessoa justa e honesta, que o coloca acima de qualquer questionamento, especialmente o próprio.

Isso não quer dizer que a TV deva ser banida da vida de qualquer pessoa. Só é urgente que ela não seja a única forma de entretenimento e informação. Também não quer dizer que alguém não possa ter uma religião, mas ela não pode ser considerada inquestionável. E sempre vale lembrar que acreditar em Deus e viver os bons ensinamentos bíblicos, por exemplo, como o amor e o respeito, é diferente de viver cegado por qualquer dogma.

Espero que eu possa melhorar cada dia mais, para que eu não seja mais um a perpetuar o machismo, a intolerância e o preconceito. E espero, ainda mais, que mais pessoas possam olhar para o seu passado, seus pensamentos e suas posições e repensem suas atitudes à luz da necessidade de uma sociedade mais humana e justa.

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