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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Coisas que esquecemos que deveriam ser unanimidade universal

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Existem coisas que deveriam ser unanimidade entre todos os seres humanos, não é verdade? Por exemplo: não é admissível que existam pessoas que passam fome e sede. Da mesma forma, não é justificável o fato de que há gente que não tenha onde morar com dignidade, nem tenha acesso a serviços de saúde. O preconceito, seja qual for, jamais deveria ser incentivado, sob nenhuma hipótese. 


Por isso, eu não entendo as pessoas que fuçam argumentos para normalizar coisas que não são normais sob nenhuma ótica. “Ah, mas é rico é porque trabalhou por isso”. Ou “ah, mora na rua porque quer”. Ou “ah, não se esforçou o bastante”. Ou, “ah, não tem que dar o peixe, tem que ensinar a pescar”. Pior: “ah, mas como o mercado financeiro vai reagir a qualquer iniciativa que ajude essas pessoas?”. 


O mais aterrorizante é que, não raro, isso acontece defendido por justificativas religiosas. O que me traz ao infame Bolsonaro, essa besta quadrada que muitos insistem em chamar de presidente, mas que, na verdade, é apenas uma acidente da natureza, que permitiu vir ao mundo essa criatura abjeta que, por infortúnio do destino, acabou num cargo de poder.


O problema é que Bolsonaro está onde está porque ele é o sintoma de uma doença social. Quando um ser vivo fica doente e começa a ter bolhas purulentas e fétidas pelo corpo todo, a razão do mal-estar não são as bolhas purulentas: elas apenas são provocadas por uma enfermidade agressiva. São consequência, não causa.


No caso, Bolsonaro é a bolha purulenta e fétida causada pela doença social chamada normalização do anormal. O que seria essa normalização do anormal? Eu listo:


  • Ver antagonistas políticos como inimigos. É verdade que nós temos, como sociedade, divergências profundas sobre como resolver os problemas do mundo. Mas, no fim, o que deveríamos querer é que todos tenham acesso às condições mínimas para sobreviver com dignidade. Para Bolsonaro (e seus seguidores), não é assim. Só quem tem direito a condições humanas de vida são os que pensam como eles. O restante, que morra e vá pro inferno.

  • Ver a pobreza como preguiça. Quem pensa como Bolsonaro acha que pobreza é uma consequência da falta de vontade. É fácil você falar que é possível conquistar o que quiser só com o trabalho se você vive em condições para isso. Mas tem gente que não tem nem água potável em casa! Os problemas sociais são complexos demais para ter uma visão tão reducionista e simplista das coisas.

  • Ver o mundo como uma eterna luta de bem contra o mal. Tenham dó, minha gente! Isso deve ser muita Disney na vida das pessoas. Ninguém é completamente bom ou completamente mal. Mas, para Bolsonaro e seus seguidores, há um mal a ser derrotado e eles, os bolsonaristas, são o bem, os emissários de Deus.

  • Ver a religião como prova de moral. Religião não é sinônimo de retidão em nenhum lugar do mundo, nem na história. Aliás, religião não, né? Cristianismo. Para Bolsonaro, só presta quem é cristão. As outras crenças são apenas toleradas e devem se curvar à maioria. Os seguidores dessa anta pensam exatamente assim. Porém, se religião fosse sinônimo de moral, não haveria tantos casos de pedofilia na Igreja Católica e de lavagem de dinheiro em igrejas neopentecostais. Pior é que gente como Bolsonaro acha que as “ovelhas negras” dentro do cristianismo são exceção, não regra. Tolinhos!

  • Ver o mundo como um grande palco de teorias conspiratórias. Todo mundo já ouviu a expressão “história de pescador”, não é mesmo? Antigamente, isso era motivo de riso, mas hoje as pessoas estão acreditando nas histórias de pescador! E fazem mais esforço para acreditar em teorias da conspiração do que na realidade. A cegueira é tão absurda que eles se recusam a ouvir argumentos comprováveis para sustentar suas crendices ridículas, como a Nova Ordem Mundial, Terra Plana e outras sandices.


Há muito mais a ser dito, mas falar do Bolsonaro me dá gastrite, então vou parar. Ele é o pior mal que a humanidade já provou em décadas, sem dúvida. Um ser asqueroso e desprezível, desumano e mentiroso, egoísta e egocêntrico. Mas, como disse, o pior é saber que ele não é a doença, mas um sintoma dela. Se Bolsonaro deixar de existir, ou se recolher em sua insignificância, a ruindade e a desumanidade que ele representa continuarão existindo.


Claro, Bolsonaro não é o único ser desprezível no mundo. Tem muito empresário que tira comida dos pobres para engordar seu bolso, têm muitos outros políticos que deixam faltar oxigênio em hospitais para garantir sua decoração na casa de praia, enfim… Mas Bolsonaro concentra o que há de ruim em todas as pessoas e em todas as práticas nocivas à sociedade em si mesmo. Incrível a façanha desse sujeito!


Comecei este texto falando do que é inaceitável na sociedade e terminei falando do Bolsonaro. Enfim, pra dar alguma coerência ao que tô falando aqui, quero, então, elencar de novo o que eu acho que jamais deveria ser aceito, mas acaba sendo naturalizado pelas pessoas atualmente: gente passando fome e sede, gente sem ter onde morar dignamente, cidadãos sem acesso à saúde, o preconceito e Bolsonaro.


Deveria ser uma opinião unânime na sociedade. Ninguém deveria aceitar nada disso. Infelizmente, não é assim que acontece. É por isso que estamos caindo buraco abaixo. 


Enquanto não recuperarmos nossa humanidade, nossa capacidade de olhar o outro com compreensão e respeito, jamais seremos dignos deste mundo. É triste pensar assim, mas mais triste é saber que há quem não se importe com nada disso, que faça da sua vida uma grande bajulação ao próprio umbigo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A tempestade que se avizinha com as Eleições 2018


É triste constatar que parece não haver esperanças para o Brasil superar a instabilidade que se instaurou no país após as eleições de 2014. E é ainda mais lamentável — o que, confesso a vocês, me faz chorar enquanto escrevo estas palavras — que aqueles que têm o poder de amenizar a crise política e moral que assolou o país não fazem nada além de aprofundá-la ainda mais em benefício de interesses particulares e mesquinhos.

Estas eleições de 2018, pensava-se, poderiam representar a oportunidade de superar tudo o que aconteceu de ruim no Brasil nos últimos anos. Um impeachment sem crime de responsabilidade, um vice-presidente que conspirou abertamente para tomar o poder e implantou um plano de governo para o qual ele não foi eleito e que foi rejeitado nas urnas, além de um clima de profunda polarização que impede as pessoas de pensarem soluções para o país.

Contudo, não é o que se percebe. Ainda que eu tenha votado em Dilma no segundo turno das eleições passadas, sou um crítico ferrenho (e justo) à sua gestão pré-impeachment. Porque, ainda que ela estivesse com meio pé nos programas sociais e nas políticas de inclusão que a diferenciavam de Aécio Neves, a ex-presidente quis consertar a crise econômica causada por decisões equivocadas do seu primeiro governo implantando medidas que não condiziam com o que havia sido prometido em campanha.

Mas, para além dos erros do PT — e aí incluem-se os escândalos de corrupção que afetam grande parte da alta patente do partido — a imprensa pouco faz e pouco fez para motivar as pessoas ao bom senso e à reflexão. A crise moral do país foi jogada inteiramente nas costas do Partido dos Trabalhadores quando, segundo levantamento da revista Congresso em Foco, o pior partido do país, com o maior número de congressistas sob suspeita de corrupção, é o PP (seguido por PT e PMDB, empatados em segundo lugar).

Em relação ao número de políticos cassados, o líder do ranking é o Democratas, seguido do PMDB e do PSDB. O PT é apenas o 9º colocado. Entretanto, quando são encontradas malas de dinheiro de políticos protegidos do presidente da República, quando ex-candidatos à presidência são flagrados em áudios comprometedores com pedido de propina e quando governadores ordenam o massacre de professores que pedem condições mais dignas de trabalho, a imprensa, em geral, faz pouco alarde, e prefere dizer que o maior problema do país é a compra de um pedalinho em um sítio.

Não que um pedalinho supostamente comprado com dinheiro de corrupção não seja motivo de indignação. Mas é que a narrativa de criminalização da política é tão ardilosa e tacanha que faz com que as pessoas personifiquem seu ódio em uma única pessoa: o ex-presidente Lula. Enquanto isso, todos os outros políticos continuam em seus joguinhos de poder e o toma-lá-dá-cá da política, sem que o povo se dê conta de que está sendo manipulado.

O que nos traz a uma aberração chamada Bolsonaro.

Bolsonaro e a desumanização da política


Como Lula virou sinônimo de corrupção, o PT foi conduzido ao posto de quadrilha criminosa e os outros partidos e políticos, embora não nomeados, acabam sendo vistos como mais do mesmo pela população que até ontem não dava a mínima ao processo eleitoral, um serzinho hediondo e incompetente, que já trocou mais de partido do que de meias — aliás, por muito tempo ele foi do PP, o partido mais corrupto, como já exposto aqui — caiu nas graças do povo.

Com um discurso fácil, promessas de soluções milagrosas e imediatas, um vocabulário cheio de moralismo e ufanismo, Bolsonaro foi ganhando espaço na mídia e na atenção dos brasileiros. O hoje candidato do PSL, declaradamente, afirma não entender nada de economia, disse que vai terceirizar as decisões sobre a política econômica ao seu “posto Ipiranga”, o banqueiro Paulo Guedes, e afirma que vai devolver a moralidade ao país.

E por moralidade entenda-se a aceitação das demandas do que há de pior no ativismo político-religioso brasileiro, representado por Silas Malafaia e Marco Feliciano. Insanidades inexistentes como a famigerada “ideologia de gênero” devem ser combatidas, no que deve ser uma caça às bruxas do século XXI. Políticas de valorização e proteção às mulheres, direitos dos LGBTQIs, políticas inclusivas à população negra e indígena, pautas ambientais e sociais devem ser sumariamente interrompidas. Até aí, porém, a população não vai reclamar. Em geral, os conservadores não querem mesmo dar voz às minorias.

Agora, a coisa vai complicar quando Bolsonaro começar, via Paulo Guedes, a implementar a pauta liberal que está fazendo com que o mercado o tolere, mesmo diante de sua imensa ignorância em relação a temas cruciais para o desenvolvimento do Brasil. Assim, uma nova política de impostos deve ser implementada para agradar os mais ricos, o que deve aprofundar a desigualdade social. Direitos trabalhistas serão ainda mais massacrados, o que deve precarizar ainda mais as relações de trabalho.

Com tudo isso, o poder de compra dos brasileiros deve diminuir, situação agravada com as prometidas privatizações, que vão fazer com que as pessoas precisem pagar ainda mais por serviços básicos à população. E aí não se espante se o ensino começar a ser cobrado e se o SUS deixar de ser universal.

Desigualdade social, como não é segredo para ninguém, acaba gerando mais violência. E a proposta de Bolsonaro para isso é simplesmente facilitar o acesso ao porte de arma para defesa pessoal e dar poder à polícia para matar sem ser julgada por isso. E aqui eu não consigo entender como alguém pode ouvir esse tipo de proposta e acreditar que uma coisa dessas pode dar certo.

Estive pensando esses dias que, infelizmente, as pessoas não vão nem poder reclamar que Bolsonaro não cumpriu o que prometeu. Porque, afinal, ele não tem nenhuma proposta de modernização da educação. Em nenhum momento ouvi ele falar de ações efetivas para combate ao desemprego. Nem mesmo li qualquer coisa sobre planos para estancar as facções criminosas que espalham medo e violência para o país.

Bolsonaro não fala de turismo, nem de comércio exterior. Ele não fala de medidas concretas de combate à corrupção, nem de empreendedorismo, nem sobre cultura, nem de valorização aos professores e políticas para melhoria da saúde pública.

O que ele fala é apenas que as minorias têm que se submeter às maiorias e todos aqueles absurdos que já listei. E tudo bem se você acha que a pauta liberal é a mais coerente para o enfrentamento das mazelas do Brasil. Mas mesmo que eu concordasse com isso, não confiaria a Bolsonaro a missão de implementá-la. 

Infelizmente, o que temos do outro lado é o PT. Arrasado pela profunda rejeição popular, o partido pode até ter um programa de governo mais consistente do que o do candidato do PSL, mas não conseguirá governar com tranquilidade, já que o fantasma da polarização irá infernizar Haddad assim como o fez com Dilma. 

Com um Congresso conservador, é bem possível que, novamente como ocorreu com Dilma, Haddad vá enfrentar vários boicotes, que vão paralizar o país e impedirão a busca por caminhos para resolver o que precisa ser resolvido, em busca de colocar o país novamente nos trilhos.

Resta-nos torcer para que as pesquisas estejam erradas, que as pessoas estejam mais conscientes do que demonstram e que essas minhas previsões catastróficas estejam erradas. Confesso que costumo me auto-consolar lembrando de quantas mazelas a Europa, por exemplo, teve que enfrentar até que alcançasse algum tipo de cidadania e justiça social.

Porém, se pudéssemos aprender com a História, talvez não tivéssemos que repetir os erros do Velho Continente. O problema é que até mesmo a História tem sido alvo de disputas ideológicas e desconfianças de todo tipo. Dessa maneira, fica bem difícil encontrarmos uma saída.

Que Deus, seja qual for o seu, tenha misericórdia de nós!

domingo, 25 de janeiro de 2015

Brasil: séculos de atraso. E a culpa, sinto dizer, não é do PT

Primeiramente é preciso deixar claro que eu não sou filiado a partido algum. Eu tenho uma ideologia humanista, o que me coloca numa posição política mais à esquerda – e só isso já bastaria para não ser classificado como petista (ou petralha, como queiram), afinal, ao contrário do que muitos querem crer, há anos o PT abandonou as históricas bandeiras de esquerda. Mas nem mesmo dentre os partidos verdadeiramente de esquerda eu não me filio, pois não sinto segurança para tal. Dito isso, prosseguimos.

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Fiz questão de deixar isso claro para que este não seja interpretado como um texto de apologia ou defesa ao PT, Lula ou Dilma. É apenas uma reflexão sobre o Brasil, nossa história e as contradições no discurso daqueles que acreditam que o atraso que o nosso país sofre com relação a outras nações é culpa desse governo que está aí.

A história do Brasil já começou mal. A cultura indígena que existia aqui foi esmagada pelo imperialismo português que, não contente apenas em “catequisar” os índios e tomar as terras destes, carregaram para a Europa muitas das nossas riquezas, como as madeiras do pau-brasil, riquíssimas para colorir tecidos, e os minérios. 

Quando a coisa apertou por lá, a família Real veio todinha para cá, não sem provocar mais estragos. O Brasil nunca foi uma terra palco de projetos de desenvolvimento em prol das pessoas que aqui moravam. Éramos apenas curral de enriquecimento alheio, morada de índios renegados, escravos importados e, mais tarde, de imigrantes desafortunados, praticamente expulsos de uma Europa falida e em crise, que tiveram que enfrentar as jornadas desumanas nas grandes lavouras de café ou as terras atoladas dos mangues do sul.

Hoje vivemos o mais longo período democrático da história. Antes disso, em mais de cinco séculos de existência, sofremos com exploração atrás de exploração, golpe atrás de golpe, falcatrua atrás de falcatrua. E, convenhamos, nada disso é culpa do PT.

Hoje, claro, pagamos caro – literalmente – pelo país que construíram para nós. Pagamos caro por causa de uma corrupção enraizada no poder que é tão histórica quanto o descaso que o Brasil sofreu por aqueles responsáveis por torná-lo uma nação. Sempre sofremos com corrupção, sempre tivemos que pagar mais caro pelas coisas, sempre as tecnologias chegaram aqui com defasagem de tempo. Sempre estivemos à mercê de grupos religiosos ditando nosso modo de vida.

Isso é ruim? Sim, é péssimo. Mas por outro lado faz parte da construção de uma nação rica e próspera. O que precisamos é investir, acima de tudo, em educação e mudar essa cultura de reclamantes do Facebook e porta vozes do achismo para compreendermos mais a nossa história e a nossa sociedade. Porque se não for assim, nunca evoluiremos.

A educação é necessária, primeiramente, para desmistificarmos mitos enraizados no nosso cotidiano. Um deles é que os Estados Unidos são modelo. Não são. Os norte-americanos só conseguem ser modelo de um capitalismo selvagem, excludente e, diferentemente do que costumamos ver na mídia e no cinema, sofrem com a pobreza, com a violência e com o descaso na saúde, por exemplo. Afinal, lá não existe tratamento de saúde de graça.

Outro mito é o exemplo Europeu. Ok, talvez isso não seja exatamente um mito porque, realmente, em muitos países da Europa a qualidade de vida é ótima, as cidades são humanizadas e a educação é invejável. Mas a que custo eles chegaram nesse patamar? O continente europeu é milenar. Eles também tiveram de passar por ditaduras, guerras, doenças, crises, fome, escravidão, revoluções, mortes – e tudo isso mais de uma vez – para então chegarem ao nível de civilidade que muitos têm. E na civilidade e na educação que nascem as cidades mais bonitas, as pessoas mais saudáveis e a vida mais tranquila, embora isso não seja regra.

Do oriente, então, nem se fala. Pelo que consta eles são alguns dos povos até mais antigos que os próprios Europeus.

Mas, voltando à Europa, é importante lembrar que a riqueza deles não foi/é consequência apenas do sangue, suor e lágrimas dos seus conterrâneos, não. Até hoje a África, o Oriente Médio e a América Latina – incluindo nós brasileiros – pagamos pela ganância e pela exploração europeia. 

A questão não é culpar o Velho Continente pelas nossas mazelas. Nós poderíamos muito bem dar a volta por cima, como fizeram os coreanos. O objetivo de trazer essas questões à tona é encararmos a realidade: somos frutos da exploração, carregamos na nossa veia o sangue de corruptos e exploradores e não queremos – ao menos não deveríamos querer – explorar outros povos para garantir nossas riquezas.

Se não quisermos pagar caro pela nossa evolução, como a Europa teve de fazer, teremos que aprender. E novamente menciono a importância da educação. E a partir daí, dando a devida atenção a este item, poderemos evoluir. Mas isso leva tempo e temos exemplos no mundo todo disso, dessa demora pelos resultados.

Portanto, não é correto, justo, nem honesto culpar o PT pelo atraso do Brasil. O atraso que vivemos é fruto da história. E muitos dos que estarão lendo esse texto podem não saber, mas cultivam em si um pensamento retrógrado que em nada contribui para a nossa evolução.

Exemplo disso é a nossa ainda predileção pelos veículos individuais, pela construção de estradas cada vez maiores roubando o espaço que deveria ser dado a transportes alternativos, como a bicicleta o os coletivos. É a nossa preguiça em ler e adquirir conhecimento, e preferir formar opiniões com base no achismo e nas mídias tradicionais. É o nosso apego a pensamentos ultrapassados e retrógrados, especialmente os que defendem o núcleo familiar tradicional que inexiste, já foi realidade há anos e hoje não representa o nosso modo de vida.

O machismo não nos deixa evoluir, a implicância com movimentos sociais, a adoração à meritocracia, o desejo pela vingança e pela pena de morte, a mercantilização da educação e da saúde, o desrespeito com a natureza, enfim. Enquanto não formos mais humanos, enquanto não pararmos de achar que o dinheiro é o centro de tudo e enquanto não atualizarmos nosso pensamento e não colocarmos as nossas necessidades dentro de uma visão atenta à nossa realidade contemporânea, não evoluiremos.

E a culpa disso não é do PT. É, sim, de cada um de nós.

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terça-feira, 25 de junho de 2013

A ingenuidade de quem defende o Feliciano

Deputado-pastor-charlatão Marco Feliciano, presidente
da Comissão de Direitos Humanos e Minorias.
A pessoa precisa ser muito ingênua ou muito desonesta para defender o pastor-deputado Marco Feliciano, achar que ele não tinha opção, que não quis votar e não é culpa dele o projeto que – para não dar argumentos aos que defendem o parlamentar, não vou chamar de “cura gay” –, mas de proposta de alteração de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe esses profissionais de tratarem a homossexualidade como se fosse doença e de declarar, em público, que é possível reverter um “quadro de homossexualismo”. 

O argumento: não foi o Feliciano que apresentou o projeto. E daí? O autor da proposta é tão desprezível quanto ele, líder da bancada evangélica da Câmara dos Deputados, deputado João Campos (PSDB-GO). Chega a ser nojento que alguma pessoa acredite em boas intenções de gente como esses senhores. Eles até podem ter boas intenções, mas desde que tudo ocorra conforme os interesses deles. 
Deputado "bom mocinho" João Campos, claro, do PSDB

Mas seguimos com os argumentos: o presidente da Comissão, Feliciano, sequer pode votar. Por isso não teve responsabilidade na aprovação do referido projeto. E daí? Ele não pode votar, mas foi ele que colocou o projeto na pauta para votação! Insistiu nisso, declarou que fará “rebelião” na Câmara se o governo travar o projeto. Vocês ainda vão continuar dizendo que ele não tem responsabilidade sobre a proposta? 

A justificativa que motivou essa alteração na regulamentação em um Conselho Profissional – que não deveria se submeter à vontade e achismos de pessoas despreparadas e não formadas na psicologia – é que “se um heterossexual em dúvida com sua sexualidade pode procurar ajuda profissional, por que um homossexual não pode?”. Mas claro que pode! Quem está dizendo que não pode? O que não pode é o tratamento tentar conduzir a pessoa a acreditar que sentir desejo por pessoas do mesmo sexo é aberração! 

Primeiro é preciso ter a consciência – que estes deputados-charlatões não têm – que, se um heterossexual está em dúvida com sua sexualidade, ele, possivelmente, não é um heterossexual. No mínimo, bissexual. Se ocorrer apenas uma aventura, uma experiência, isso não torna a pessoa gay ou bi e também não vejo porque ela precise de ajuda. Pode se arrepender, não gostar do que fez, mas não vai entrar em um conflito interno tão grande que a faça procurar um psicólogo. 

Agora se essa aventura lhe trouxe dúvidas quanto aos seus desejos, despertou algo que ela não conhecia e o relacionamento com pessoas do mesmo sexo tornou-se mais frequente, aí sim, a pessoa pode estar confusa e precisando de orientação. Neste caso, é bem provável que ela esteja com a sexualidade reprimida. Não sou psicólogo, mas é algo lógico! Você não procura um profissional por um deslize, mas só se aquilo se torna recorrente e está te trazendo desconforto!

Neste caso, não é possível que o psicólogo tente tratar, curar a pessoa. Desde 1990 a Organização Mundial da Saúde (OMS) não define homossexualidade como doença. Também não é uma prática. É uma condição, uma natureza, encontrada, inclusive no reino animal de tão instintiva que é! Logo, não se pode curar o que não é doença. O papel do psicólogo, neste caso, é levar a pessoa à aceitação, para que ela possa conviver com mais harmonia diante desse desejo existente dentro de si.

Reprimir, condenar, tratar, modificar o que a pessoa é só traz infelicidades. Eu conheço, pessoalmente mesmo, uma dezena de casos de pessoas que abandonaram casamentos de longos anos para viver uma relação homossexual. Perversão? Não! Na verdade, a pessoa só não aguentou mais fingir ser o que não é. Porém, nessa altura da vida, a situação já fica muito mais complicada de se resolver. Filhos, família, tudo fica mais próximo, mais íntimo, maior. O impacto negativo na vida de ambos é extremamente alto. Pra que deixar chegar a esse ponto? Uns até nem assumem uma relação: simplesmente se divorciam e vão viver sozinhos porque não aguentam mais aquela vida. Não é o que elas, no fundo, desejam. E passam o resto da vida amargurados, pois não aceitam aquilo que a natureza lhes impôs.

E na pior das alternativas, a pessoa se suicida. É muita pressão interna, é muita negação, é muita mentira para si mesmo. E isso não decorre apenas de pessoas não tratadas, mas também – e principalmente – àqueles que são tratados (principalmente por igrejas) e amargam infelicidade para o resto da vida. Não se enganem: lembram-se daquele pastor que se diz ex-gay, acredita na cura da homossexualidade, é casado, mas confessa “não poder chegar perto de homem”? E aquela instituição americana, ligada à religião, que depois de mais de duas décadas “tratando” homossexuais pediu desculpas públicas, fechou as portas e o presidente assumiu-se gay? 

E essa especialmente aos católicos: quantos meninos visivelmente afeminados abraçam o sacerdócio para “fugir” da sua condição? A fama da Igreja de pedófila não poderia ser muito evitada se isso não fosse tratado como aberração? Afinal, em algum momento, por erro, fraqueza, e, aí sim, um distúrbio causado pela negação, a pessoa externa naquilo que tem por perto: crianças.

Não são todos os casos. Não é regra. E se formos analisar casos de pedofilia a minoria é homossexual e a maioria causada por familiares, não padres. Mas se acontece é por existir um motivo que não foi tratado lá no início (aceitação), ou foi tratado errado (negação).

Portanto, não é competência dos nobres (?) deputados tocar neste assunto. A resolução do Conselho Federal de Psicologia é profissional, pautada em dados científicos. Achismos e crendices não ajudam em nada às pessoas que se sentem realmente transtornadas com a sua sexualidade.

Cada macaco no seu galho.

E pessoas: PAREM de defender o Feliciano. Como eu disse lá no início: é muita ingenuidade, pra não dizer desonestidade, irresponsabilidade. A mídia manipula, sim. Mas a informação correta é muito fácil de achar. Você pode procurar na ciência que vai lhe orientar corretamente, ou procurar outra rede de manipulação: a igreja, que vai lhe dizer que profissionais estão errados.

Manipulação por manipulação, eu fico com a mídia. Pelo menos ela é minha profissão e eu, com as competências que tenho, posso fazer dela um lugar melhor. Coisa que nenhum deputado (pastor) pode fazer.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Os protestos em São Paulo e os tipos de pessoas

Foto: Bruno Passos, do blog Papo de Homem, que
participou de um dos dias do protesto. Pacificamente.

Tenho acompanhado os protestos em São Paulo contra o aumento da tarifa do transporte coletivo e venho sentindo uma inveja (das boas) da galera de lá. Meu sonho é que a população joinvilense fosse politizada e mobilizada dessa forma.
Porém, a grande imprensa tem divulgado notícias sobre as manifestações com aquele jeitinho joinvilense de pensar: todos baderneiros, jovens sem causa, arruaceiros, vândalos. Como eu disse esse dias, estão fazendo um recorte bem tendecioso de tudo o que está acontecendo na capital paulista.
Eu torço de verdade para que o movimento consiga alcançar o objetivo que almeja, que a tarifa seja revogada e que São Paulo seja referência de mobilização para o restante do país. Mas também torço para que, um dia, essa imprensa suja e escrota que existe e mina a cabeça de pessoas menos críticas mude sua forma de pensar, ou sucumba de vez, dando espaço a um jornalismo independente e comprometido com a prestação de serviço.
Enquanto meus sonhos não são realizados, pipocam na rede textos que retratam o avesso daquilo que a grande imprensa mostra. Mas o mais completo, profundo e reflexivo que eu li nestes últimos dias é este que apresento para vocês aqui. Ele é de autoria do Rafael Fontenelle e eu tomei conhecimento desse texto primoroso a partir de um compartilhamento de um dos meus contatos no Facebook. Eu não conheço o Rafael, mas ele me autorizou, com bastante gentileza, que eu transcrevesse as palavras dele aqui no Andarilho.
Espero que vocês gostem e que essa discussão fique ainda mais calorosa. Nós precisamos disso para, aos poucos, mudarmos o Brasil. É meu sonho!

Fico aqui vendo as fotos e os comentários sobre o protesto sobre o preço do transporte público em São Paulo, e pensando que o Brasil dá errado porque a maioria das pessoas não sabe ser.
Primeiro você tem as pessoas que são ignorantes. Não num sentido pejorativo, digo das pessoas que receberam nenhuma ou pouca educação ou tiveram nenhum ou pouco acesso à nossa chamada cultura, ou aos trâmites internos da sociedade. Essas pessoas representam uma grande maioria, e infelizmente ficam facilmente sugestionadas à malícia de outras, mais esclarecidas de como o "sistema" funciona, que usam isso em favor delas.

Daí você tem as pessoas burras. A pessoa burra é aquela que vai numa manifestação sobre o preço do transporte público em São Paulo, ou numa manifestação contra o policiamento na USP, porque acha que manifestação significa baderna. E vai com o único intuito de quebrar tudo. Ou então tem algum ideal vazio, e aproveita dele para ir lá e: quebrar tudo. Ele não quer saber pra que é aquilo, se tem uma causa política, se tem um contexto, ou se vai machucar alguém, tanto do movimento, quanto da polícia. A pessoa burra quer quebrar tudo. Essa pessoa, além de burra, é perigosa, porque descredita qualquer possibilidade de bom uso das causas, e dá armas pra determinados veículos de imprensa fazerem uma série de generalizações. A pessoa burra dá tiro no pé. Ela depreda o bem que ela pagou pra ser feito, que vai pagar pra consertar. Ela queima o ônibus onde ela mesma anda e reclama da lotação.

Daí vem as pessoas muito burras. A pessoa muito burra é aquela pessoa que é esclarecida o suficiente, e
Foto: Agência Brasil.
ainda assim assiste a televisão ou vê na internet sobre o caos e a baderna na Paulista, ou na USP, e acredita piamente que aquelas pessoas TODAS realmente saíram de suas casas apenas para ir lá e quebrar tudo. Apenas para isso. A pessoa muito burra acha MESMO que dezenas, centenas, ou milhares de pessoas são baderneiros, ou maconheiros, e que ainda bem que existe a santa polícia pra salvar o dia, e acha que bala e gás lacrimogênio é pouco. Acham 20 centavos uma mixaria, e o protesto um absurdo, pois aumentos são naturais. Não passa pela cabeça delas as pessoas que dependem desses 20 centavos diários, ou a péssima qualidade do transporte, ou quantos meios de transporte a pessoa é obrigada a pegar por dia, ou sequer se esse aumento simplesmente é ou não justo frente às concessões e ilegalidades que faz parte do governo deste país, desde sempre, independente de partido. E a pessoa muito burra, apesar de esclarecida, parece que não sabe que o voto, os direitos trabalhistas, as férias, dentre tantas coisas, foram conquistadas por meio de "badernas".

Daí tem outras duas classes de pessoas, menos perigosas, cada uma para o seu lado. Os alienados, que veem tudo e optam por achar que o mundo é assim mesmo e é uma bosta e deixam pra lá, e os internéticos, que veem tudo na internet, assinam petições, e ficam putos, cada um pro seu lado, mas se movem o máximo que a tela do computador permite (eu certamente, infelizmente, me enquadro nesse último).
Mas o problema maior do país são duas classes muitíssimo infelizes e perigosas de pessoas, que são o tomador de conta e o oposicionista.

O tomador de conta não liga muito pra em que época ou século ele está, nem pro que está acontecendo no mundo. Ele liga pra vida dos outros. O tomador de conta quer decidir por si mesmo quem tem direito a que, quem deve ir aonde, quem deve casar, quem deve sair na rua, quem deve ser preso, e quem deve morrer. Ele se sente desrespeitado pela mera existência de uma pessoa que não pensa igual ele. Mesmo que nunca a tenha visto na vida. Ele toma conta da vida dos outros, porque a dele é completamente vazia. E, nessa vida vazia e sem contexto, ele quer impor o seu pensamento ao pensamento dos outros. Nos tomadores de conta está a temível subcategoria dos xiitas, que não apenas tomam conta e apontam dedos, mas usam de suas armas para fazer sua vontade. Mas não fazem sua vontade na própria vida, nem fazem dela melhor. Toda a energia vai é pra vida do outro. Já que a dele tá mesmo uma grande bosta.

O oposicionista é o cara cuja única função no mundo é: opor. Ele não tem nenhuma ideia plausível de como mudar o país, ou a política, ou talvez nem o próprio armário. Se tiver, a ideia é de alguém que não é do partido que ele gosta, mas do partido contrário àquele que ele odeia. O que ele faz é: culpar uma coisa, em detrimento de outra. O oposicionista é aquele cara que ficou preso lá atrás, na época em que direita e esquerda faziam sentido, e que o PT e o PSDB representavam antípodas políticas no Brasil. Se mantendo nesse viés, tudo que o oposicionista faz é pegar todo e qualquer tipo de situação e culpar no governo de [insira aqui um partido ou um político conhecido]. O oposicionista da esquerda acha que é tudo culpa da direita, deste governo maléfico e aproveitador, que engole tudo e todos. Reaças. Tudo que TODOS os tucanos querem é denegrir a sociedade em proveito próprio e só isso. O oposicionista da direita, na contra mão, acha que é tudo culpa da esquerda, claro; este governo assistencialista ignorante, com suas falsas políticas de valorização de massas. Tudo culpa deles. Petralhas. Esse acha que a ditadura dos pobres está sendo maleficamente arquitetada a cada minuto. E tudo, TUDO, é culpa do Lula.

Daí, no fim de tudo, todo mundo se pergunta: é esse o país que vai sediar a Copa? Sendo que na verdade esse “país” que vai sediar a Copa tão precariamente (tanto pros que acham que vai faltar verba quanto pros que acham que isso nem deveria existir aqui, por não ser prioridade) só é essa belíssima bosta por nossa culpa. O cara que tá lá na Paulista protestando contra o aumento da passagem tá pelo menos exercendo o direito DELE, de protestar contra o governo que o representa. Em voz alta, em plena visibilidade, sem apontar dedo pra ninguém além dele mesmo. Tudo que ele quer é o direito dele, ou pelo menos ser convencido do porque esse direito foi mais limitado. Daqui até a Copa, qual tipo de brasileiro a gente vai ser?


*Este texto é de autoria de Rafael Fontenelle e foi publicado originalmente no perfil dele no Facebook.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Marco Feliciano, o arauto do ódio e da exclusão social

Escrevo este texto num momento de muita angústia, em que meu coração me instiga a desabafar. Se não o fizer, não conseguirei levar meu dia adiante. Existem coisas entaladas na garganta que precisam ser ditas e que devem ser expressas antes que seja proibido fazê-lo.

Tudo começou com o pastor Marco Feliciano. Sei bem que ele não é o arauto do ódio, porque antes já tínhamos Myrian Rios e Silas Malafaia, mas o Feliciano está num lugar onde não deveria estar. É legítimo (talvez não tanto, mas isso é outra discussão) que ele seja deputado, afinal, ele recebeu uma votação expressiva para isso e é aos seus eleitores que ele deve representar. Mas deve ficar claro o motivo da rejeição e dos protestos contra este deputado-pastor: hoje ele quer representar justamente as pessoas que não votariam nele: participantes de religiões de origem Africana, índios, feministas, gays. Enfim, as minorias.

Ele diz que deve permanecer na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias para “defender a família”. Que família?, eu pergunto. As famílias de mães solteiras? As famílias de pais solteiros? Famílias de pais divorciados? Famílias onde os pais são ausentes e os filhos são criados pelos avós, tios?  Não. Feliciano, ao falar de família, acha que todas são exatamente do jeito que ele e sua igreja querem que seja: pai, mãe e filhos. E, sinto dizer, a população brasileira não vive mais sob essa construção hegemônica de família.

Ainda assim, sob o guarda-chuva de Feliciano, estão amparados os discursos de todos os reacionários do país. E nenhum desses grupos é composto por gente boa: machistas, nazistas, defensores da ditadura militar e fundamentalistas. Afinal, esse discurso de que os gays serão culpados pela “destruição da família” não cola mais desde que o divórcio foi permitido por lei. Sobre divórcio, aliás, Jesus fala claramente e diz que “Moisés permitiu por causa da dureza dos vossos corações”. Mas sobre os gays... bem... Jesus nunca falou deles.
Não que eu negue que a Bíblia os condena. Disse apenas que Jesus nunca falou disso. Mas não é a questão deste texto. Eu aprofundei essas questões em outra publicação, que você pode conferir se quiser. E nem adianta usar isso como argumento nos comentários, porque este texto não se trata disso.

Voltando. O divórcio já foi um “golpe legal”, digamos assim, na construção evangélica da família. E as igrejas já tiveram que se adaptar a isso, se não, perderiam fiéis. Não vejo nenhum deputado esbravejando contra a lei do divórcio e propondo medidas que anulem este direito. Porém, não duvido que isso um dia possa acontecer se o Brasil virar, ao invés de uma democracia, uma teocracia.
Feliciano está me fazendo ter asco dos evangélicos, algo que eu tento com todas as minhas forças controlar porque, diferentemente da minha emoção, minha razão sabe que nem todos pensam e são como ele. Tanto é verdade que eu sou cercado de evangélicos e, por ser católico, também convivo com centenas de pessoas que têm os mesmos pensamentos defendidos por Feliciano. Mas não adianta. Feliciano instaurou estado de guerra neste país.
Desse modo, as coisas estão ficando “oito ou oitenta” e todos estão vendo apenas os extremos dos dois lados. Para os que não apoiam o movimento gay, acreditam que este é composto por um bando de baderneiros. E para os que não pensam como os evangélicos, acabam por julgar todos eles como atrasados intelectualmente, tal qual Feliciano.

Marco Feliciano, infelizmente, está a protagonizar um retrocesso gigantesco no nosso país. O Brasil, se continuar no ritmo que está, se tornará uma nação regida por leis ditadas pela Bíblia, da mesma forma que os países do Oriente Médio misturam o Estado com a religião e cumprem leis de acordo com suas orientações religiosas. Isso é muito, muito, muito perigoso.
Falam em “ditadura gay” porque, de certo, não sabem o que é ditadura. Acaso alguém está obrigando alguém a ser gay? Acaso as rádios estão proibidas de tocar música sertaneja para transmitir a voz da Madonna, da Cher, do Elton John? O movimento gay não está exigindo nenhum privilégio, apenas que sejam concedidos a eles pelos menos 76 direitos de cidadania que lhes são negados por conta da condição sexual deles. Exatamente: quem é gay perde, hoje, quase 100 direitos civis. E há ainda quem diga que ser gay é uma opção.

Por desconhecimento ou total falta de honestidade, a bancada evangélica negocia fisiologicamente com este governo – que cada vez mais me decepciona – contra programas educacionais e propostas legais de criminalização da homofobia. Enquanto isso, homossexuais morrem ou são agredidos por causa do preconceito. Sim, heterossexuais são vítimas de violência também. Porém, NINGUÉM é agredido na rua simplesmente por ser heterossexual. Parece difícil de compreender, de tão banal que é isso, mas trata-se de um fato: pessoas são agredidas por serem quem são. Só por isso.
As únicas exceções nessa história são as mulheres e o povo negro. Elas sim são agredidas simplesmente por serem mulheres; e para isso existe a lei Maria da Penha. Para os negros existe a lei que criminaliza o racismo, quando negros são violentados somente por causa da cor da sua pele. Mas para os gays... bem... eles podem ser diminuídos, violentados que nada vai acontecer. Dirão “ah, agora tudo virou homofobia”, contratarão um advogado que vai dar uma desculpa qualquer e o machão de plantão sai ileso, enquanto o outro, com o nariz quebrado e graves consequências psicológicas.

Por fim, preciso dizer que estou triste com o mundo. Triste de ver cristãos tendo como bandeira o ódio. Tristes por ver gente usando a palavra de um Deus que dizem ser de amor para tirar direitos de outros cidadãos, regrar a vida daqueles que são diferentes de si, limitar a existência de seres humanos.

E estou preocupado. Porque para político ladrão o Brasil se revolta facilmente e não é difícil incitar a população a rejeitar alguém que rouba. Mas quando a injustiça parte daqueles que usam a máscara do cristianismo, os seguidores do sujeito o defendem como defenderiam o próprio Cristo, espalhando ainda mais a violência e a intolerância e colocando, na boca daquele que pregou o amor e a justiça, uma mensagem de exclusão e condenação.

domingo, 25 de novembro de 2012

Belo Monte: o grande lixeiro de dinheiro público

Projeto gráfico de Belo Monte
Por muito tempo ouvi falar da construção da usina de Belo Monte e não expus minha opinião, nem tirei nenhuma conclusão a respeito do assunto porque tudo era muito complexo e exigia um conhecimento mais profundo do que simples manifestações no Facebook.

Aliás, muitas coisas que se opinam hoje não devem ser concluídas somente a partir de comentários em redes sociais. O debate fica raso e prejudicial, mas isso é assunto para outro post.

A questão em Belo Monte era muito mais complexa: por um lado, a necessidade do Brasil de aumentar as reservas de energia, com uma solução ambientalmente correta como as hidrelétricas, que oferecem pouco impacto ambiental por não serem poluentes. Esse aumento da reserva energética é importante para estimular a indústria, tão importante num mundo abalado pela crise econômica e especialmente no Brasil que, apesar de menos afetado que os países Europeus, por exemplo, precisa lidar com importantes contrastes sociais e, por isso, não se pode dar ao luxo de andar para trás nas questões econômicas, evitando, assim, que isso afete o social.

Por outro lado havia as questões ecológicas e sociais. Diz-se que Belo Monte não vai prejudicar nenhum habitante de áreas ribeirinhas, nem índios. Ora, se não vai prejudicar, por que, então, estas pessoas não querem a obra? Por que estão protestando contra ela? E como dizer que a população ribeirinha não será afetada se a região ficará debaixo d’água, e estas pessoas vivem à beira do rio?
Ora, essas questões já seriam suficientes para que qualquer um tivesse dúvidas quanto a validade do projeto. E por mais que as hidrelétricas, do ponto de vista da produção de energia, sejam mais limpas e não poluentes, é impossível dizer que uma obra capaz de alagar uma extensa área da floresta Amazônica não vá causar impactos ambientais.
No site do projeto, noticia-se que biólogos estão fazendo a catalogação e o transporte dos animais daquela região para as localidades que não serão alagadas. Mas será, realmente, que todos os animais serão transportados? E será que eles irão se adaptar aos novos locais para onde forem levados? Sem contar as inúmeras espécies de plantas e árvores que ficarão debaixo d’água.

Mas a questão não para por aí. A matéria mais completa que li sobre o assunto foi uma entrevista da jornalista Eliane Brum com Célio Bermann, um dos mais respeitados especialistas no país na área energética, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), com doutorado em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp. Autor dos livros “Energia no Brasil: Para quê? Para quem? – Crise e Alternativas para um País Sustentável” (Livraria da Física) e “As Novas Energias no Brasil: Dilemas da Inclusão Social e Programas de Governo” (Fase), entre outros. Participou dos debates da área energética e ambiental para a elaboração do programa de Lula na campanha de 2002 e foi assessor de Dilma Rousseff entre 2003 e 2004, no Ministério de Minas e Energia. Ex-petista, Bermann foi um dos 40 cientistas que participaram de uma extensa pesquisa a fim de elaborar um painel sobre a obra de Belo Monte que, segundo a reportagem, foi ignorado pelo governo federal.

Como eu disse, este é um assunto que não dá para você tomar uma decisão somente com os microtextos do twitter, ou vídeos fáceis de atores globais engajados na causa, ou com aquelas imagens vazias compartilhadas no Facebook. A reportagem que eu linco aqui é extensa, mas vale a leitura, porque muito além de se ter opinião sobre o assunto, é importante que nós, brasileiros, tenhamos conhecimento a respeito dessas decisões que afetam duramente a nossa sociedade – mesmo aqueles que moram a quilômetros de nós, em uma realidade extremamente diferente – e que impactam nas questões econômicas e ambientais do nosso país.

Em suma, o que o professor Célio Bermann revela é que a obra interessa somente às construtoras envolvidas no projeto, aos políticos que se beneficiarão dela, às empresas que fabricarão os componentes necessários para a usina e, o mais preocupante, “o que estamos testemunhando é um esquema de engenharia financeira para satisfazer um jogo de interesses que envolve empreiteiras que vão ganhar muito dinheiro no curto prazo. Um esquema de relações de poder que se estabelece nos níveis local, estadual e nacional – e isso numa obra cujos 11.200 megawatts de potência instalada só vão funcionar quatro meses por ano por causa do funcionamento hidrológico do Xingu”, diz Bermann. É isso mesmo: dos 12 meses do ano, somente em quatro a usina produzirá energia, porque no restante dos meses o nível do rio não atende às condições mínimas possíveis para que haja produção.
E preciso dizer que precisamos de informação. Esta é a primeira arma que temos para que o dinheiro público não seja usado como convém às oligarquias e aos coronéis eternos do governo. Outra consequência da informação é o nosso conhecimento, que nos dá argumentos para poder questionar e cobrar das autoridades, da forma como for possível (voto, e-mails aos parlamentares, petições), o bom uso dos recursos públicos.
A solução, segundo o professor (e eu concordo), é mudar a cultura industrial do país. Gasta-se muita energia para produzir bens primários que são exportados e lá fora transformam-se em produtos de valor agregado que nos faz pagar mais caro quando voltam para cá. Precisamos produzir tecnologia aqui – e a Petrobras, por exemplo, está aí para provar que temos essa capacidade – e parar de depender de coisas que são produzidas lá fora.
Matéria prima custa mais caro para produzir, gasta mais energia, a gente vende barato e compra o bem manufaturado a um valor mais alto. Isso é prejudicial pra todo mundo. Menos para os empresários, que ganham dinheiro sem sair do comodismo.
Eike Batista, por exemplo,  na ocasião do lançamento do pacote de concessões para obras logísticas no Brasil, disse que aquilo era um “kit felicidade”. Sempre assim: como em Belo Monte, a maior parte do dinheiro vem do nosso bolso governo e quem explora é a iniciativa privada, cobrando por aquilo que já pagamos às custas de impressionantes impactos sociais e ambientais.

Por fim, divulgarmos, para o maior número de pessoas possível. Com uma população insatisfeita com as coisas realizadas do modo como as autoridades bem entendem, eles vão precisar rever os conceitos. Precisamos de uma sociedade consciente e informada. Isto é o primeiro passo para uma revolução, pelo menos no nosso modo de pensar e no nosso senso crítico. Mas é aí que começam as grandes transformações.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Leonel e o ninho de cobras


Leonel Camasão é filiado a um partido recente, pequeno e com ideias e propostas desconhecidas da grande maioria. O problema é que, ao apresentar as ideias e a forma de trabalhar do PSOL, o povo joinvilense tenha ficado um tanto espantado.

Isso porque não é natural em Joinville que se discuta temas como igualdade, respeito, limites entre público e privado e defesa das minorias em prol do todo. Joinville é a cidade do individualismo e, infelizmente, usar o espaço político para mudar essa mentalidade, embora necessário e ideal, não é vista com simpatia e acaba afugentando votos.
Assim, quando Leonel propõe reduzir o salário do prefeito e acabar com as secretarias regionais, o povo se assusta. Ora, apesar de eu achar interessante a justificativa para a permanência e criação das secretarias regionais, nada do que foi proposto acontece. Elas têm pouca autonomia e servem basicamente para trampolim político dos secretários num futuro cargo de vereador e cabide de empregos, inchando a folha de pagamento da prefeitura.

Mas as secretarias foram criadas por Luiz Henrique e o nome dele parece ser imaculado na Cidade dos Príncipes. Não sei por quais motivos, afinal, foi este sujeito que deu autonomia para as empresas de ônibus agirem do modo como agem hoje em dia, por exemplo, reclamando o preço da passagem que bem entendem e tratando os usuários como se fossem sardinhas.

Leonel é contra tudo isso. E pode até existir gente que concorde com as ideias dele, mas teme duas coisas: a primeira de todas é a “perda de voto”. Já que Leonel não está bem colocado nas pesquisas, pensam que vão jogar o voto fora. Malditas pessoas que votam tendo a pesquisa eleitoral como condicionante! Se todo mundo que pensasse assim efetivamente votasse em Leonel, se não o levasse à prefeitura, pelo menos o colocaria numa boa posição.
O outro motivo é o comodismo. É muito mais fácil viver numa Cidade dos Príncipes. E por que eu repito esse título? Porque somos súditos. Meros súditos do empresariado dessa cidade, dos donos das terras, dos imóveis, das igrejas e das empresas. Aprendemos e nos acostumamos e obedecer. Votar diferente significa sair da realidade de formigas: acostumadas a andar enfileiradas, se perdem quando aparece qualquer obstáculo no caminho. Assim é o joinvilense: prefere ser comandado a tomar frente da situação e decidir que as coisas devem ser diferentes.

Estamos inseridos em uma realidade de preconceito, fundamentalismo e autoritarismo. Por anos fomos comandados por oligarquias no Estado. E continuam os mesmos nomes, ainda que corruptos e com atuações questionáveis – tal como Tebaldi e Luiz Henrique – a governar o povo joinvilense e catarinense. Nesta realidade, Leonel pode ter dificuldades em governar. Não duvido que o governador do Estado, Raimundo Colombo, que é do mesmo partido do candidato Kennedy Nunes, esqueça ainda mais Joinville. Os investimentos do Estado para nós já são ínfimos; temo que Leonel na prefeitura possa causar ainda mais desagrado aos poderosos.
Será um grande desafio para ele lidar com isso: a Acij influente, que vai querer abatimento de impostos dos ricos, enquanto os pequenos empresários terão que pagar a conta não paga pelas multinacionais que porventura queiram se instalar aqui. Leonel terá escolhas difíceis e pode ter que conviver quatro anos em um ninho de cobras. Cobras que maioria dos joinvilenses alimenta a cada dois anos com as eleições em todas as esferas do poder.

Aqui nos cabe apenas refletir. Leonel tem boas propostas, boas ideias e traz um modelo de governo necessário para que Joinville seja mais educada, mais humana e justa. Mas sobreviverá ele a uma realidade de individualismo e autoritarismo predominantes no âmbito político estadual e federal no qual a cidade está inserida?

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

"O Andarilho" é abertamente CONTRA a candidatura de Tebaldi

Ainda falta falar de mais três candidatos ao cargo de prefeito de Joinville, mas antes que chegue a vez dele, é preciso deixar claro que este blog fará de tudo para contribuir com A NÃO ELEIÇÃO DO DEPUTADO MARCO TEBALDI.

Além dessa imagem referente ao Código Florestal, que ele votou a favor, tem os processos judiciais movidos contra ele, e o candidato insiste em dizer que isso é normal. Não sei de onde.
Além disso, enquanto prefeito, Joinville esteve constantemente envolvida em escândalos, seja por conta da corrupção ou por compra de vaga do time de Joinville em campeonato de futebol.
Tebaldi fez asfalto casca de ovo, começou e esqueceu a obra no São José (e agora diz que vai terminar), ergueu o prédio do PA do Aventureiro, não equipou e diz que o pronto atendimento é realização dele (sendo que sem médicos e equipamentos, de nada valem as paredes).

Tebaldi construiu a Arena, uma jogada (com perdão do trocadilho) extremamente eleitoreira. A obra está cheia de sérios problemas estruturais, cuja reforma completa custaria o o que foi gasto até o momento com a construção.
E as escolas que começaram a ser interditadas no início de 2009? Como seria culpa do governo atual com poucos meses de casa? Claro que foi Tebaldi que permitiu que as coisas atingissem tais níveis alarmantes. Além das enchentes, que ele nunca sequer tentou resolver.

Tebaldi foi um dos prefeitos que mais aumentou a passagem de ônibus e o serviço prestado nunca melhorou. Tebaldi deixou uma dívida milionária para a prefeitura e amargava índices de rejeição na eleição de 2008 por conta de sua péssima atuação.


O ANDARILHO NÃO QUER TEBALDI NOVAMENTE! PELO BEM DE JOINVILLE, VAMOS TIRAR TEBALDI DO SEGUNDO TURNO!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ensino Integral: uma solução não tão boa quanto parece

A seguir vocês vão poder ler um texto da minha irmã, Bruna Reinert. Pedi para que ela escrevesse sobre o Ensino Médio Integral, experiência do governo do estado implantado em algumas escolas de Santa Catarina enquanto o atual candidato a prefeito, Marco Tebaldi, era secretário estadual da educação. Minha irmã foi duramente prejudicada com a falta de preparo pedagógico e estrutural da escola para tal iniciativa. E nem era culpa dos professores. Em conversa com uma orientadora do colégio, à época que minha irmã ainda estudava em período integral (pediu para mudar justamente por conta da péssima qualidade do projeto), ela me disse que a ideia foi empurrada goela abaixo e não foram dadas as condições mínimas para que a escola pudesse trabalhar dessa forma.
Historicamente, o ensino de responsabilidade do governo do Estado em Santa Catarina, é ruim e continua sendo. Por isso talvez haveria diferença na qualidade do ensino integral lá e aqui. Penso que não. Joinville acabou de sair do turno intermediário. É hora de melhorar a qualidade do ensino regular, valorizar sempre e cada vez mais os professores, trabalhar para aumento da qualidade da infraestrutura educacional da cidade e oferecer opções no contraturno. Ainda não temos como suportar Ensino Integral em escola pública, nem mesmo arcar com possibilidades tecnológicas mirabolantes aquém do necessário para que o ambiente escolar seja bom.
O exemplo vocês podem ver a seguir:



Teríamos laboratórios, salas com televisões, um bom auditório, uma sala de informática adequada, quadra de esportes, cursos técnicos, aulas de conversação para inglês e espanhol, tempo necessário para fazer as tarefas e trabalhos na escola já que ficaríamos oito horas lá. E o grande objetivo era tirar os jovens da rua e melhorar a imagem da escola estadual. Tudo isso foi o que prometeram para as escolas que adotariam o Ensino Médio Integral.
            
Todas essas novidades foram apresentadas para os alunos do 9º ano do ensino fundamental, para ajudar na escolha de uma escola depois que se formassem. E foi por isso que eu fui para o Arnaldo Moreira Douat, no Costa e Silva, que adotou o Ensino Integral, apesar de não ter estrutura nenhuma para comportar isso. Mas a promessa de receber uma boa verba para ajudar a escola fez com que eles tivessem esperança de uma escola com uma estrutura melhor.
            
Já nos primeiros dias de aula o problema mais comum das escolas estaduais apareceu: a falta de professores. Ficávamos duas, três aulas sem atividades por falta de profissionais e só podíamos recorrer ao ping-pong já que a escola, até algumas semanas atrás, não tinha quadra. Resolvido o problema com os professores, agora o drama era os laboratórios, auditório, biblioteca e sala de informática. Nada disso era bom, auditório caindo aos pedaços, depois veio a “reforma”, laboratório sem espaço nenhum, biblioteca sempre fechada e sala de informática com quase todos os computadores estragados. Quando viram que não era possível resolver todos estes problemas, esqueceram da escola, porque, segundo a direção, a verba não tinha vindo como o prometido. Acho que não preciso nem comentar muito dos “cursos técnicos” que davam pra gente que eram, na verdade, o ping-pong,, capoeira, dança e xadrez.Até hoje tento entender o que isso vai acrescentar no currículo. Os horários que serviriam pra pudéssemos fazer os trabalhos e tarefas se resumiam às duas últimas aulas somente nas segundas-feiras. Mas depois retiraram esse horário e nos liberavam mais cedo todas as segundas pra fazermos os trabalhos em casa. Quando questionamos isso falaram que não estávamos fazendo nada mais do que a nossa obrigação.

Depois de todas as coisas erradas que estavam acontecendo e como todos os alunos viram que estávamos sendo prejudicados, decidimos fazer uma paralisação para pedir a liberação da quadra e cobrar as promessas não compridas. Não adiantou nada, pois, ao que parece, aluno de escola estadual não tem voz. Nada mudou.
            
Acho que por último e não menos importante é a questão da “aula de conversação”. Em espanhol, depois de quase meio ano perdido sem professor, encontraram alguém realmente bom. Nossas aulas só se resumiam a trabalhos e atividades. E a aula de inglês, foi a motivadora por eu ter saído do Ensino Médio Integral. Em inglês a professora não tinha diploma, estava no primeiro ano da faculdade e do cursinho de inglês. O que a gente fazia na aula? Cantávamos e líamos duas linhas do livro de inglês para a “aula de conversação”.
            
Não exagerei em nada do que disse, muito pelo contrário, estou meio que amenizando as coisas. As salas climatizadas, que falavam que iríamos ter, chegou no começo do inverno só com os condicionadores de ar pregados na parede. Ainda fazíamos as tarefas em casa, éramos obrigados a fazer os “cursos técnicos” mesmo se não gostássemos ou mesmo sabendo da inutilidade deles. Alunos e, principalmente, professores – que são muito mal pagos – estavam esgotados muito antes do meio do ano, as aulas não estavam rendendo por isso. Nenhuma promessa ou objetivo da Ensino Médio Integral foi cumprida, nenhum objetivo alcançado. Só conseguiram, por um tempo limitado, ocupar os jovens o dia inteiro. Apesar disso, meses depois do início do ano letivo, muitos decidiram desistir de estudar.

Agora eu me pergunto, o que o Ensino Integral tem de bom?

Bruna Reinert tem 16 anos e está no primeiro ano do Ensino Médio. Assim como dezenas de alunos, ela saiu do turno integral por insatisfação e agora está no turno da noite. Outros alunos trocaram de escola e, segundo ela, ainda há os que pararam de estudar, desmotivados. De acordo com a escola, foi necessário fechar uma das turmas do Ensino Médio Integral por falta de alunos.


domingo, 30 de setembro de 2012

Udo: a menina dos olhos de Luiz Henrique


Está tudo lá: um gesto marcante (antes as mãos juntas “por toda Santa Catarina”, agora, a batidinha na palma da mão “com mãos limpas”), a cartilha do Plano 15 e a ideia de passar a imagem de um político “gente como a gente”. Tudo bem, isso pode ser somente coincidências de marketing. Mas é inegável que Udo Döhler é um bonequinho de Luiz Henrique que, estando no senado, precisa de um discípulo fiel aqui na maior cidade de Santa Catarina para garantir seu reduto eleitoral.

Ao contrário do que aparece na propaganda eleitoral, Udo não é um cara que sai andando pela sua indústria ou por seu hospital cumprimentando e conversando com todo mundo. Sequer é visto com frequência. E eu conheço mais gente que trabalha/trabalhava nessas duas empresas do que a quantidade que já foi mostrada na propaganda do candidato.

Não concordo com a estratégia dos adversários de ficar apelando para suposições, tal como o possível racismo de Udo, ou do fato de o Dona Helena não atender pobres. Mais: apesar de ser fato o episódio das funcionárias da Döhler amarradas, não penso que isso contribua com o debate político, até porque tenho certeza que, se eleito, Udo não vai ficar amarrando ninguém em nenhum lugar.

Mas o que põe em discussão a qualidade da administração de Udo é o jeito Luiz Henrique de governar. LHS fez grandes obras para Joinville. E apenas grandes, porque úteis nem todas eram. Basta ver o Centreventos, cuja adaptação para shows, por exemplo, pode custar até R$ 25 mil. O Juarez Machado é mais um auditório de luxo do que teatro. Pra piorar, o prédio foi erguido em cima do que era pra ser o Teatro Municipal. E até hoje não temos o Teatro Municipal.
Luiz Henrique jogou a cavalaria da Polícia Militar junto com máquinas retroescavadeiras em cima dos comerciantes de rua do calçadão da Rua do Príncipe, para abrir uma rua que complicou ainda mais o trânsito do Centro. E sobre o álibi de estar melhorando o sistema de transporte coletivo da cidade, autorizou – anticonstitucionalmente, sem licitação – a exploração do serviço por 14 anos para a Transtusa e Gidion, que até hoje praticam preços abusivos, garantidos pelo acordo entre as empresas e a prefeitura, além de exercer um atendimento à população aquém do necessário, de péssima qualidade.
O asfalto, feito a torto e a direita, foi realizado sem drenagem e sem saneamento básico. Com os anos, os bairros começaram a sofrer com os alagamentos e os rios ficavam ainda piores com o esgoto não tratado despejado neles.
Enquanto isso, LHS continuava com suas obras megalomaníacas, que o fez ser a maior personalidade política da cidade, imbatível por aqui.
Hoje, ele está lá em Brasília defendendo o novo Código Florestal que beneficia os ruralistas, legaliza a destruição do que resta da Mata Atlântica e aprova o desmatamento da floresta Amazônica.
Não tenho dúvida que Udo vai governar sob a sombra de LHS. Até porque a atitude de se candidatar não partiu de Udo, mas de um “namoro” longo que o ex-prefeito manteve com o empresário para que o PMDB retomasse a administração municipal.

Diante disso tudo nos resta saber: como ficará o transporte coletivo na cidade? Será que Udo fará alguma coisa para destituir do poder os seus amiguinhos da Transtusa e da Gidion? Será que Udo vai continuar a atender a cidade com uma nova rede de tratamento de esgoto? Será que Udo vai fazer alguma coisa para despoluir o Rio Cachoeira que sua empresa tanto ajudou a poluir com as toxinas despejadas nele? Será que Udo vai realmente pensar nas pessoas diante do seu histórico à frente da Acij e da defesa dos interesses do empresariado da cidade? Quem terá mais peso nas decisões de Udo? Seus amigos da Acij afoitos pela especulação imobiliária, pelo enchimento da cidade com veículos por parte das concessionárias, ou o povo com a necessidade de moradia e de transporte coletivo de qualidade?

Deixemos as possibilidades de racismo, mulheres amarradas, xenofobia e toxinas no Cachoeira de lado: será que Udo quer governar Joinville por vontade própria? Será que ele vai ser prefeito para os joinvilenses ou para os empresários da cidade? Será que ele quer defender os interesses da população ou do Luiz Henrique? Udo seria o melhor prefeito para Joinville?